Esperava a minha vez na venda da fruta quando ela chegou com uma menina pequena pela mão. Somos vizinhas de rua há muitos anos, ambas temos quatro filhos e é tudo o que nos assemelha. Ela tem o cuidado de se demarcar pela distância e pela incapacidade de sorrir. Coloca a voz em modo snob, anasalado, arrastado nas primeiras vogais de cada palavra e um tom acima do necessário.
Olhou-me de cabeça baixa, os olhos pequenos em alvo disparando setas, por cima dos óculos, a testa numa persiana, e "Olá", seco. "Bom dia, Paula, está boa? Que bonita que é a sua Maria". Sem resposta, dirigiu-se à criança: "Espera, Maria, que somos já a seguir. A avó não te pega ao colo porque tem dói-dói". E eu para ali, cheia de contradições na cabeça, de entre as quais que não, que ela e a neta não eram as próximas a serem atendidas.
O funcionário da mercearia perguntou então quem estava a seguir, ela disse "Sou eu", e eu esclareci-a: "Não, Paula, não é a Paula que está a seguir, sou eu. Acontece que eu dou a vez à minha vizinha, tendo em conta...", eu num sorriso, derretida de parva que sou com uma criança, ela cheia de pedras no olhar, "Olhe, não é por ser sua vizinha, é porque as crianças têm prioridade", e lá se aviou, demorada e arrogante, enquanto as cinco pessoas que ali estavam à espera abriam bocas e olhos de espanto mudo e incapaz, e eu, toda órfã, engolia uma enxurrada de lágrimas feitas de brita pontiaguda, Mãe, mãe, mãe.
Olá Linda !
ResponderEliminarÉs mesmo engraçada. Compreendo-te tão bem. Há mesmo gente muito parva. Mas acho que fizeste muito bem . Primeiro levou o " chá " e depois deste-lhe a balba.Noutro dia ,foi comigo. Fila para pagar no super. Um velho à minha frente e 1° da fila,resolveu deixar passar um palerma q só levava uma coisa.Tomou a iniciativa sem o outro nada lhe ter pedido. Mas assim acabava por me passar tb a mi ,q estava logo atrás do velho. Eu aguentei ...muito raro em mim ,mas n devia ter-me calado. Boas acções à conta dos outros ? O Totó agradeceu ao velho e nem olhou para mim. Viste ? Fiquei com uns nervos.
Como é que é possível?
EliminarHá pessoas muito estúpidas (odeio esta palavra, só a digo quando estou muito zangada) e depois há pessoas com um coração enorme a quem me apetecia dar um grande abraço não virtual. Releva a estupidez da Paula e as lágrimas deixa-as correr...
ResponderEliminarObrigada, Be. Havemos de combinar esse abraço, que há muito te quero dar.
EliminarDe facto, há pessoas com uma visão tão estranha da vida... que atitude tão feia...
ResponderEliminarInfelizmente, a única coisa que podemos fazer, é tentarmos contrariar a parvoíce de algumas pessoas tentando ser um pouquinho melhores :)
É verdade, Cacao, mas esta pessoa só me apanhou num dia touchie. Noutro qualquer, para além de não lhe dar a prioridade (que ela não tinha), ainda lhe teria respondido à letra. Passei há muito a idade de levar desaforo para casa, como dizem os brasileiros :)
EliminarEstranho... todas as Paulas que conheço são excelentes pessoas.
ResponderEliminarEm Portugal parece-me que essa lei está a ser abusada. O tanto que ouvi "deixa-me levar o puto as compras para me despachar mais depressa".
De facto o que me parece mal é que (não digo na venda da fruta) nas grandes superfícies, para poupar salários escravizantes a tribilionarios não se empreguem pessoal nas caixas todas para se diminuir as filas.
Por acaso, também eu. Esta ou é a exepção que confirma a regra, ou então Paula é pseudónimo, e chama-se, na realidade, Anália.
EliminarEu já não suporto estar numa fila a inchar os pés e chegar uma gorda (true, true) com a desculpa da gravidez, e fazer-me esperar ainda mais.
De qualquer modo, ali era a venda da fruta, não era uma caixa com operadora, a criança ia pela mão e terá seguramente mais do que dois anos, a prioridade dela era zero. Nem pelo dói-dói...