Logo à chegada, a da recepção do hotel diz-nos de chofre que não aceita, como documento identificativo, a carta de condução de uma das minhas crianças. Já estou a rodar a baiana e os olhos, explicando-lhe que qualquer documento que contenha a fotografia e o nome completo de um cidadão, serve como comprovativo da sua existência, só que ela arruma-me com o argumento de que são ordens do SEF, e é então que me apercebo de que não estamos a falar a mesma língua e ou ela julga que está a entabular conversação com um jerico. Ou um jumento. (Existe uma vaga possibilidade de aqui a humana dar ares de estrangeira. Marrocos, Tânger, por aí.)
Depois vamos jantar a um local óptimo, quanto mais não seja porque é consensual: uma pizaria. O espaço tem cinquenta por cento das mesas ocupadas, mas já não tem menus para todas as mesas, logo, logicamente, é-nos pedido que aguardemos por uma mísera lista, para os cinco que estamos à mesa. Aguardamos, assim como aguardamos uns pelos outros, assim como aguardamos que nos venham registar os pedidos, assim como aguardamos pela comida propriamente dita. Apercebo-me então que a mesa ao lado, composta por três pessoas que chegaram depois de nós, está servida, já todos mastigam, só lhes falta mesmo o arroto-mestre. Chamo um dos que cirandam pela sala, afirmo apenas que quero perceber a lógica deles, e, num passe de mágica que ainda leva mais cinco minutos a operar, põem-me o repasto debaixo do nariz.
Dois dias depois, chega o meu rapaz, necessário fazer novo check-in, vai a mesma alimária do cartão de cidadão e diz que ele não pode entrar no hotel porque ainda é menor. Parece que se trata de um “adults only”, conceito muito hilariante se aplicado a um rapaz com dezassete anos e onze meses, se nos abstrairmos do facto de a estadia estar paga desde o primeiro dia (metade em Fevereiro, ainda ele era muito menor!), e de as datas de nascimento dos hóspedes nunca serem questionadas até àquele momento. [Vá que não me falou no SEF outra vez, quiçá por já conhecer as (minhas) ventas da total rejeição.] Respondi-lhe apenas que muito bem, que se ele não entrava, então saíamos todos, e devolviam-nos o valor da estadia desde o início. E foi assim que aceitaram a entrada da minha criança num hotel para adultos only. A esta senhora atribuí secretamente a mais alta categoria, com louvor e distinção, só-a-mim-não-me-saem-empregos-destes.
Mas ele há coisas boas, no meio disto tudo: a praia é excelente e o vento suporta-se. E também soube da existência de um restaurante vegetariano que pretendo visitar, nas redondezas, e que responde pelo nome de “Vegetarianus”, valha-lhe o abençoado (em casos como este) Acordo Ortográfico, que era o circunflexo não ter caído e tínhamos ali um bonito serviço, não sei se literalmente.
(Vá, tudo a googlar onde é que eu me encontro a banhos. Pessoas, eu sou uma agulha num palheiro. Uma gota no oceano.)
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