que, quando outro condutor me bloqueia o carro com o seu, e olho à volta (sem esperança), depois dou uma apitadela simpática (elas existem, são assim duas seguidinhas, pi-pi), espero mais um tempinho (uns quê?, largos quatro segundos, ou assim), apito já menos simpaticamente (piiii-piiiii), espero mais um bocado (desta vez, dou-lhes bastante, quase três segundos que custam a passar como os dos agachamentos com a barra nos ombros, com pesos desumanos), e é que nada de me aparecer o bloqueador da minha vida,
[congemino manobras impossíveis, imagino que vou ficar ali para sempre e um dia vão encontrar-me putrefeita ao volante (mesmo que esteja em esqueleto, por favor, alguém me penteie), elaboro mentalmente discursos imaculadamente ofensivos para o momento do aparecimento do meliante, suo um bocadinho das mãos e das pálpebras, pondero chamar o reboque, a polícia de intervenção militar, a brigada dos bons costumes, os bombeiros, os rapazes da obra (há sempre uma obra por perto) que me levantem o prevaricador no ar, a minha família toda, chamo pela minha mãe, brado aos céus por uma ajudinha nesta hora de aflição,]
e isto, ao cabo de menos de nada, tudo me dá para meter as duas mãos na buzina e já de lá não as tirar até ensurdecer a rua, o bairro, a cidade, até alguém chamar a ambulância do asilo de doidos ou até, olha o disparate, aparecer o dono da m. do carro que está a atravancar o meu e a minha vida toda desde que nasci, no século passado?
...
E eis que me surge no horizonte, negro e nervoso, uma de duas possibilidades:
1. É homem: corre para o carro, faz parkour, vem de braços no ar, a pedir desculpas a todos os santinhos e, já agora, a mim. Sorri, desdobra-se em penitências, só lhe falta ir buscar o cilício, cortar os pulsos ou dar o corpo às balas, quer dizer, às rodas, debaixo do meu. Geralmente, mete-se no dele, sai disparado como uma bala e desfaz-se em fumo;
2. É mulher: vem para o carro com a paz e a calma de uma procissão, talvez traga cristais nos bolsos, ou nem quero imaginar aonde. De caminho, só lhe falta fazer um bocadinho de moonwalk, para atrasar mais a coisa e exponenciar a minha irritação. Não pratica o contacto visual comigo, sequer faz um breve gesto com a manita (não, não é esse; esse, deveria eu fazer) como sinal de desculpas. Adivinho-lhe mesmo um semblante contrariado, toda a sua linguagem corporal grita "Mal educada!". Mete o rabo entre as pernas e mete-se toda, rabo incluído, dentro do carro. Faz uma micro-manobra, para não me facilitar a saída e me provar por A + B + C + D até Z que eu sou uma má condutora e uma azelha. Depois de me obrigar a chegar à frente e atrás cerca de dez vezes, ainda me fica com o lugar. E oh, efectivamente, a malcriada sou eu.
a minha reacção favorita: "piiii-piiiii"
ResponderEliminarNunca te esqueças do parkour!
EliminarAconteceu hoje, fui buscar macaquito à escola, sorte das sortes e arranjei um lugar mesmo junto ao portão. Fiquei com a pequena no carro, até vislumbrar o irmão. Saí do carro, esperei 2 segundos e assim que acabei o abraço, tau... um táxi estacionado atrás. Perguntei a macaquito se era o táxi que habitualmente vem buscar o amigo F. (ele conhece todos pela matrícula), disse-me que sim e achei que não ia demorar, visto que são da mesma turma, logo já teria saído. E já mas só depois percebi que a pessoa que estava de chapéu vermelho a conversar fora do táxi, era a taxista. E estive ali 15 minutos à espera, e o F. dentro do carro (à espera que a senhora conversasse tudo) e eu nem pi-pi, nem piiiii-piiiii porque, burra, não me apercebi. Olha, fizemos vídeos, parecíamos maluquinhos mas soltámos umas belas gargalhadas.
ResponderEliminarSouberam foi transformar um mau num bom momento, Be :)
EliminarMas olha que essas pessoas só de varapau. Será possível que a taxista não tenha, no espaço de quinze minutos, sequer vislumbrado a hipótese de estar a empatar a vida a alguém?
(Há um fenómeno ainda por estudar, de yey-férias!, à sexta-feira, aos portões das escolas :))
Eu sou Ribatejano. Nós temos um defeito enorme, temos o sangue a “ferver”. Há uns tempos estava eu no Parque do Continente à procura de um lugar para estacionar e reparo num carro que vai sair. Paro, ligo o pisca e espero que a pessoa saia para eu estacionar. Como ele estava com dificuldade em fazer a manobra, fiz marcha atrás para ele ter mais espaço e quando o tipo sai, eis que um carro cheio de ciganos que vinha do lado contrário estaciona no meu lugar. Comecei a apitar e a gritar com os tipos que o lugar era meu, eles esbracejavam, eu dizia uma enormidade de asneiras enquanto mantia a mão na buzina e de repente o tipo faz marcha atrás e tira o carro. Fê-lo com uma velocidade tal, que ia batendo no carro que estava estacionado atrás. Lá estacionei no meu lugar e sai do carro para me dirigir para o Hipermercado. Entretanto eles tinham estacionado o carro noutro lugar e dirigiam-se também na minha direção parvo interior do Continente. Cruzamo-nos à entrada é um dos ciganos disse-me: - Ai que estavas tão nervoso. Respondi-lhe: - Olha lá, se estivesses à espera que um carro saísse para estacionar e depois viesse um palhaço e estacionasse no teu lugar, o que é que fazias? Respondeu: - Ai, dava-lhe um tiro! Começamos a rir e recebi uma palmada nas costas e lá entrámos com problema sanado.
ResponderEliminarFizeram-me isso, exactamente, mas ocuparam o lugar, e ainda vieram "conversar" comigo ao carro, a "justificarem-se" que não me tinham visto ali a fazer pisca. Juro que fiquei com tanta raiva que até dei murros no volante e chorei.
EliminarSangue a ferver tenho eu :)
E não conseguiste recuperar p lugar?
EliminarNão, era eu versus dois emigras mesmo brutos :(
EliminarPois.. eu sou menos racional..
EliminarE, muito provavelmente, mais musculado :)
EliminarNão sou nada. Sou franzino :)
EliminarAzulinha,tanto tempo...E calhou logo num post que me diz tanto...Nao tenho paciência para gente que só olha para o próprio umbigo.Desce a peixeira que ha em mim....
ResponderEliminarBeijinhos Azulinha 🌸
A mim, desce a que comanda no momento, Miss. Umas vezes, a justiceira; outras, a peixeira; outras, a dramática; também tenho a cool-caguei. Mas passo-me, geralmente.
Eliminar:)
Beijinhos, Miss Curvas, missed you.🌸
Olha os stress que tive desses tanto homens como mulheres pediram desculpas. E eu como mulher não sou nada como descreves (mas também acho que em 15 anos de carta nunca estacionei em 2º fila....)
ResponderEliminarAquilo que descrevi, foi um estereótipo, é claro que também há mulheres que me pedem desculpas. Mas homens a ignorarem-me e a passarem de nariz no ar, isso não existe.
Eliminar(Nem eu, e tenho mais ou menos esses anos de carta também.)