19/02/2018

Se o meu carro falasse

A mim calhou-me na rifa — ou veio acoplada, mas que é intrínseca, disso não hajam dúvidas —, aquando da adopção plena de Rosinha, minha canoa, uma senhora que vinha dentro da caixinha do GPS, com a qual tenho uma relação de (podemos afirmá-lo) amor-ódio. Se, por um lado, fico nervosa quando ela abre o bico para chamar "Á-quinta" à A5, "Dois circular" à Segunda Circular, se conjuga o verbo percorrer desta forma: "percórra quinhentos metros" [vá lá que não tem que dizer a mesma frase em gramas], se me manda virar em sítios onde está alegremente plantado um sinal de proibido [deve ser parente de algum examinador da condução, ela], e se me ralha quando eu não obedeço, "recalcular a rota" [um miminho, não usar o gerúndio "recalculando", ou o presente do indicativo, mas na primeira pessoa, "recalculo"], por outro, estou a gostar muito dela, a usá-la sempre que preciso (que é quase sempre, dado conhecido que é, por empirismo, o meu inexistente sentido de orientação, mesmo até dentro do meu próprio bairro, e não vão sem resposta se achais que é exagero, pois só ao cabo de mais de uma década de viver na minha rua, que não terá mais de cinquenta metros de lonjura, achava eu dantes, é que descobri que há por ali mais um bocado, com outros cem metros, que também é da minha rua, muito me admira é que nunca me tenha perdido nela, em sentido estrito e não figurado). 
Em suma, gostava muito que a senhora do GPS, para além de se calar quando eu estou parada num semáforo vermelho (às vezes, tem mesmo que ser), também tivesse uma função, que era dizer-me "já está verde", naquele cagagésimo de segundo que dista entre abrir o semáforo e o fdp que está atrás apitar o cláxon lá dele. Isso é que era. 

2 comentários:

  1. Anónimo20/2/18

    A função da senhora do GPS deveria, por exemplo, avisá-la que uma paragem num semáforo não é propriamente o sítio mais indicado para reparar se o verniz das nails foi ou não bem distribuído.
    E retocar o batom também cria os seus problemas aos utilizadores das vias

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    1. És tu, Toni?
      O que é que te dói agora? É isto? Pois, não é para todas. Experimenta menos bling-bling, menos glitter, menos parolada, menos copy-paste, mais conteúdo.
      Ouve, se usas a palavra estrangeira (não confundir com estrangeirismo) nails, também deverias usar bâton. Só mesmo por uma questão de coerência, aquela que te falha.
      Já agora, reparo, sim. Estão sempre lindas e impecáveis. Bâton, não uso: tenho uma boca maravilhosa, de uma cor invejável, que não necessita de batôn.
      Mais alguma coisa? Ah, sou giríssima, e isso é uma grande chatice para quem está de fora.
      Agora vai. Xô. Com um kick nessa banha.

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