Estava eu muito descansada da minha vida na farmácia, dando graças aos céus que não estava de serviço o senhor dos bigodes que me diz que fique mais um pouco cada vez que lá vou — e eu tenho medo; continuo a achar que as pessoas crescidas são demasiado esquisitas, brlá-brlá-brlá —, mas lamentando não estar igualmente aquela senhora simpática que me conhece pelo nome, que me avia num instantinho enquanto me pergunta tudo e mais alguma coisa sobre a minha vida, e o desafio é pagar antes que ela chegue à quinta pergunta, ou ganhe intimidades maiores do que as de me vender cenas para a tensão arterial — hey, dude, I didn't ask for a psychiatrist! — e entra um cão. O cão era loiro, pêlo médio, porte médio. E depois entrou uma mulher que, coincidentemente (?), era loira, cabelo curto, à cão, porte médio. Eu até achei giro o facto de parecerem parentes, o que não constitui novidade nenhuma, bastando, para se confirmar esta teoria, consultar a nettinha. Desconheço se se trata de uma causa — uns já escolhem os outros por semelhança — ou consequência — a convivência no mesmo espaço, ao fim de uns tempos, parece que provoca isso. (Deve ser por esse motivo que cá no lar somos todos iguais. Só que não.)
Ora, o cão vinha sem trela. Percorreu todas as estantes e todos os recantos da farmácia, mas nem piou (o que seria verdadeiramente extraordinário), nem bufou (que eu desse pelo facto).
Quando ambos saíram (porque também existe uma lei de Murphy qualquer que diz que eu até posso ter chegado primeiro, mas que me vai calhar na sorte magana a funcionária mais lesa), entendi questionar assim:
- Os cães já podem entrar nas farmácias? — Isto, porque tenho fases do dia em que gosto de fazer perguntas retóricas/ básicas/ ignorantes, e aquela era uma delas.
- ... [Hesitação]
- É que nunca vi...
- Na nossa farmácia, podem. Nós somos amigos dos animais.
[Pôxa, também eu. E das plantas. E das pedras. Mas não é por isso que entro com um menir às costas farmácia adentro.]
- Ah, está bem. A ASAE aqui não passa.
E vai de girar os saltos porta fora, que o ambiente já estava a ficar um nico sobrecarregado com tanta idiossincrasia. E saí um bocado meditabunda, até me lembrei do pensativo cigarro do Zé Maria E. Q., ora Eça.
Acho que já se disse tudo sobre a coexistência de cães, gatos, lacraus e baratas (por que não, essa agora? Se a minha baratinha quiser ir comigo ao restaurante visitar as amigas, quero ver quem tem peitos para nos contrariar o intento!), por isso não me apetece dizer mais nada, que este coiso também já vai longo e eu tenho que ir almoçar, que já se fazem horas. Levo a minha Cuca comigo, com as suas sete saias de veludo. Fica mesmo bonita.
E ai de quem.
Ahahahah tenho a mesma técnica, fazer perguntas ignorantes para chegar aos meus intentos quando acho que é melindroso dizer o que me vai na tola.
ResponderEliminarMas até acho que os cães e demais animais devem poder entrar nos restaurantes... quando souberem comer de garfo e faca!
É uma espécie de psicologia invertida caseira :)
EliminarPrecisam de polegares oponíveis, mas isso é fácil, deve bastar uma daquelas cirurgias...
Tiveste sorte de não teres sido fuzilada com o olhar da dona do cão.
ResponderEliminarEu se fosse a ti, mudava de farmácia.
;)
Não, esperei que ela saísse :)
EliminarTenho que ponderar essa possibilidade, tenho.