10/12/2017

Um daqueles que, à partida, tem cara de ir parar aos rascunhos, a fazer companhia aos outros mais de 100 (cem!)

Isto hoje já me veio à cabeça por muito mais do que uma vez, as suficientes para me apetecer dizer coisas acerca.
Tinha a impressão de que o Salvador Sobral tinha ganho o Eurofestival há mais tempo. Afinal, fui ver, e verifiquei que foi só em Maio, há sete meses. Em Junho, num daqueles episódios que acontecem aos melhores — e atire a primeira pedra quem não tem um, dois, dez acontecimentos na vida que gostaria de enterrar na quinta subcave e limpar da memória —, e eventualmente porque é um tímido, porque não tem um manager capaz de o orientar, porque é um irreverente, porque é a anti-vedeta, porque 'ta nem aí, esticou-se um bocado e estendeu-se ao comprido, com a ingénua intenção de testar a sua popularidade junto dos fãs. [Nem sei se ponha aspas ou itálico em fãs.] [Pobre rapaz. Quanta ingenuidade, num país de invejosos, em que só se está bem quando se vê os outros na merda.] 
Com isso, o Salvador Sobral, que, um mês antes tinha alcançado um prémio que jamais fora conquistado em Portugal (ou me falha a memória — mas também não vou estudar mais esta —, ou tivemos, ao todo, dois sétimos lugares), enterrou-se, levando para essa cova a carreira, passando de bestial a besta em menos de, vá, um pum. Sim, existe a questão de saúde, a "justificar" a ausência dele desde aí. Sim, e também existiu a questão da saúde do Zé Pedro dos Xutos, tratada por toda a gente, comunicação social incluída, de forma totalmente diversa. 
Agora que, finalmente, foi transplantado, em que está ainda mais fragilizado do que antes, pergunto-me se aqueles que consideraram a cena do peido do Salvador Sobral o horror, a excomunhão, não serão os mesmos que contribuem para a poluição do ar nos espaços públicos — quanto mais não seja com as suas opiniões fétidas —, e não serão os mesmos também que publicarão RIPs nas suas páginas, que puxarão a lagriminha televisiva, e que aplaudirão de pé, após minuto de silêncio, caso o Salvador Sobral não sobreviva até ao próximo Eurofestival, que — yey! — será em Lisboa. 


7 comentários:

  1. Linda
    Muito bem !
    Penso igual. Quem nunca fez tristes figuras ?
    Ainda bem não ter ido parar aos rascunhos. Farto de puritanos.
    Coitado do rapaz.

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    1. Toda a gente já fez, só a bailarina é que não tem :)
      A dualidade de critérios é que me mata. Percebo que o Zé Pedro tinha uma carreira (conhecida) mais longa, mas não percebo que o Salvador Sobral, que nada fez para merecer o que tem para amargar, seja destratado desta maneira.

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    2. https://www.youtube.com/watch?v=W1Oy9wF_BLQ

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  2. As mesmas pessoas que se escandalizaram com o Salvador Sobral, são aquelas que aplaudem a música dita "popular", mais abjecta e ordinária que enche as tardes de domingo das televisões e que essa sim, me choca e enoja.

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    1. Aquele falso puritanismo, que é o gatilho principal das gentes hipócritas. Serve para tudo, só nunca para auto-análise.

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  3. Gosto do Salvador. Já gostava dele no tempo do "Ídolos".
    As pessoas adoram tropedear os "famosos" com amor e ódio, principalmente nas redes sociais, nas quais tudo é imediato e mais ou menos impessoal.

    Beijos, Lindinha :)

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    1. Também eu, gosto dele. Só o facto de ser anti-vedeta já me encanta. E depois, vem o resto: ingénuo, bom, fragilizado. E, profissionalmente, excelente. Talvez nem precisasse da Eurovisão para nada, mais tarde ou mais cedo chegava lá onde é o lugar dele.

      Beijos, Mary :)

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