A loja apertadinha, eu no expositor de biquínis e fatos-de-banho, a fazer tempo, aquele conceito de espera que marca o compasso, enquanto aguardava por quem esperei, efectivamente, nove meses.
Trazia com ela um gigantesco trólei rosa-shock, chocando com a vista, onde berravam letras brancas e maiúsculas, "KEEP CALM AND GO SHOPPING", toda ela nervos e impaciência ao balcão, enquanto pagava. O carro de compras shopping chocante chocou com as minhas pernas quando pretendeu ir-se dali, e nem um sussurrado pedido de desculpas, antes um estalido com a saliva, pois que contratempo encontrar um obstáculo, ainda por cima humano, a tão prática e ligeira viatura sem motor. Fiquei a vê-la afastar-se, calças alapadas a alguns quilinhos a mais, cabelo lisíssimo a prancha, fita de cor matchi com o carro, laço no topo, e imaginei que iria, com certeza, a correr para o portátil, abrir o blog fashionerer e debitar conselhos de beleza e savoir faire a quem pudesse estar do outro lado. Pele branca sem sol, podia ter deixado uma nuvem negra sobre mim, mas ainda é preciso muito mais do que uma estranha sem noção para que o fenómeno se dê.
Um piso abaixo, minutos depois, dada a informação que me solicitou, o dedo negro de outra desconhecida, reconhecida - e só talvez por isso - percorria-me na vertical de alto a baixo, e da boca de ébano saía "Lucky you". Podia ter deixado uma nuvem branca sobre mim, mas foi um sol que derreteu a outra, sem deixar marcas do choque.
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