16/05/2017

And that awkward moment # 27

em que entras num restaurante para jantar e o empregado de mesa se embeiça apaixona desesperadamente por ti? E depois é todo um manancial de situações absurdas, em que é ele a querer transmitir os seus sentimentos através dos olhares penetrantes com que te estupra, e és tu a tentar jantar em paz, fintando com imenso jogo de cintura toda a abordagem por ele perpetrada. 
Traz-te queijo à mesa, perguntas se é de Nisa — porque também não podes ficar calada, e há situações que o diabo que te habita tem ganas de fazer render —, e ele responde "Não, é do Alentejo". Mas o vinho é tão bom, parece mesmo pomada para a garganta que não te dói, que dás um daqueles suspiros que achas que só tu ouves, mas que ecoam pela sala como se alguém tivesse ligado o ar condicionado no máximo dentro da tua cabeça. E o homem fica ainda mais perturbado. Diz Murphy, esse grande estupendaço, que quando alguma coisa está mal, ainda pode piorar. Claro que sim, boi.
Estás acompanhada, pediste dois cafés, e ele aparece-te do nada, ou então do tecto da sala, com duas chávenas na mão, a perguntar: "Os cafés, são para quem?" — o que te dá logo aquela vontade de responder "São os dois para mim, baby".
[A reminiscência que ele me veio trazer. Quando os miúdos eram pequenos, numa remota época em que o mais novo ainda se sentava em cadeirinha elevatória — cadeira de papa, tecnicamente falando —, não foi uma nem duas vezes que se acercou da mesa uma figura com duas chávenas na mão, a perguntar para quem eram os cafés. E de todas, a acompanhar candidamente o queixo caído, tiveste vontade de responder "Para os dois mais novos, a ver se sossegam".]
(Um dia vou dar largas ao Tourette agrilhoado em mim, e só respondo o que me der na venta. E no vento.)
Há depois um momento — que não vou contar aqui —, talvez derivado da enervadeira que o homem te provocou, em que despejas uma parte do vinho sobre ti mesma, ficando o teu vestido (que é obviamente branco) cravejado de nódoas cor-de-tintol, aquele tom indisfarçável que grita à populaça com que te cruzas até ao carro, "Bêbada!", quando não estás. Mas é claro que os saltos altos e a p. da calçada de paralelepípedos redondos te negam qualquer negação dessa aparência sóbria.
Empregado estupidamente apaixonado - 1; LB - 0.
(O amor tudo vence.)

4 comentários:

  1. Anónimo16/5/17

    Não aprecio esse tipo de investidas por parte dos empregados de restaurantes e afins. Eu gosto é que me deixem desfrutar da minha refeição em paz. É óbvio que há pessoas e Pessoas, mas por vezes apetece mesmo responder em modo tourette. :)

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    1. Era tudo tão mais fácil se cada um representasse o seu papel convenientemente... :)

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  2. Poderia dizer que já me aconteceu mas não digo. Até porque não teria a mais pequena piada depois da forma hilariante como contas uma história de má educação, dele não tua, que da tua parte e tendo em conta a situação, seria mais que legítimo. Tu e as nódoas ( não falo só das do vinho)...

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    1. Oh, agora não terias graça! Logo tu, que relatas com a maior graça e ternura as histórias do teus macaquitos :)

      Aquilo era um palerma que só visto. Uma nódoa, mesmo...

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