Vou à lavandaria self-service, porque tenho a máquina avariada. (Aliás, tenho tudo avariado, a do café também deu o grito, as minhas botas mais queridas idem.) Meto tudo na primeira máquina que me aparece, sem perceber que tem capacidade para 19 quilos. Quando constato que, afinal, a roupa cabe toda numa de 12, mudo, retiro o cartão da ranhura para anular a intenção, mas o sistema da coisa já não me credita a quantia correspondente a 19 quilos, para que depois possa debitar a dos 12. Não está uma alma viva que me possa acudir, mas tenho um botão de ajuda mesmo ali ao lado. (Tipo botão de pânico.) Carrego no botão e não acontece nada. Não me admiro, pois tenho o mesmo problema à saída dos parques com Via Verde, nunca me acodem ao primeiro grito de socorro. Julgando que o meu indicador não foi suficientemente enfático, carrego com mais força e durante mais segundos. Mudo e quedo. Ligo então para o número de ajuda que ali consta, e atende-me um senhor estremunhado, isto passa das 10 da madrugada. Relato-lhe o meu drama em cerca de três mil palavrinhas apenas, e o homem responde-me: "De onde é que a senhora está a falar?". Desiludo-me a mim mesma. A resposta ideal, correcta ou lógica, que seria "Do Além!", "Da periferia", "Do estrangeiro", ou "Da sua cabeça", sai-me, esdrúxula: "Da lavandaria...". Mas ele queria mais. Ou porque ainda não tinha deveras acordado, ou porque tem uma cadeia imensa de lavandarias: quis saber de qual lavandaria. Especifiquei, cheia de paciência. (Jó era um menino, ao pé de mim, quando estou em brasa.) Atordoado, fez-me repetir qual o problema que me levava a ligar-lhe (vá que não acrescentou a esta hora). Depois de se inteirar, disse-me que, àquela distância, não podia resolver o meu problema. (Nunca ninguém pode resolver nenhum dos meus problemas, esteja a que distância estiver. Eu sou um velho lobo, travestido de pessoa comum.) Então, fiquei nervosa um bocadinho mais a sério, e perguntei assim: "O senhor explique-me só uma coisa, que eu fiquei sem perceber: para que é que serve este botão de ajuda que, efectivamente, não toca para lado nenhum, e este telemóvel, que vai dar a alguém que não pode fazer nada?". Então não é que ele me responde que "Um e outro servem para resolver outro tipo de problemas, diferentes daquele que a senhora me relatou"? (Faço uma ideia. Hão-de ser problemas mais intrincados, problemas de pele, problemas de matemática, problemas do genital.) É sempre. Obrigadinha, cosmos. Há muito que percebi que sou psiquiatra de mim mesma.
Isso é do teu (mau) feito. ;)
ResponderEliminarPode servir para resolver problemas mais "profundos", assim uma espécie de linha SOS amizade :p
S pode, Me :)
EliminarMas que raio de pergunta a minha, tamãe... o senhor todo prestativo, lá no meio da drunfa, e eu com questões... :P
"da periferia..."
ResponderEliminarmuito bom, Blue!
"de fora da box..."
Eliminarobrigada, Shark.
para lá de Lisboa?
ResponderEliminarhttps://youtu.be/fzpPcfDyEsg
Loures já me parece um paraíso, desde que não me batam...
Eliminar