Calhou-lhe entrar num local que lhe trouxe aos sentidos, à lembrança, ao coração, o aroma da casa da avó que a vida lhe levou tinha ela onze anos. Simultaneamente, por uma daquelas coincidências que acontecem quase nunca, sentiu no ar, exalando talvez de outra senhora, o mesmíssimo perfume usado pela avó.
Acerco-me dele, inalando-lhe o perfil, sentado à secretária, decalcado da imagem do meu pai diante do estirador, e sussurro, penso alto, ou calo quase sempre, Henriquinho, até no cheiro és o meu pai.
No cheiro dos que nos são nossos, há um denominador comum, que se nos entranha sentidos afora, olfacto adentro, respiração feita na memória íntima do odor amado. Pode ser o que nos faz reconhecer como pertença, assim como acontece com os outros animais. É também o que nos acirra as saudades, e o que as mata. O olfacto e as memórias que lhe são inerentes, tanto aguçam como suavizam a falta que as pessoas, as coisas e os lugares nos fazem.
Pergunto-me quantas vezes não percorro as minhas léguas apenas em busca do cheiro da minha mãe. Há uns dias, como naquele último, em que não o encontro logo, nem ela mo reconhece a mim. Depois, à despedida, porque é sempre à despedida, consigo sentir e cheira-me, de forma absoluta, intrínseca, definida e definitiva, a mãe.
No cheiro dos que nos são nossos, há um denominador comum, que se nos entranha sentidos afora, olfacto adentro, respiração feita na memória íntima do odor amado. Pode ser o que nos faz reconhecer como pertença, assim como acontece com os outros animais. É também o que nos acirra as saudades, e o que as mata. O olfacto e as memórias que lhe são inerentes, tanto aguçam como suavizam a falta que as pessoas, as coisas e os lugares nos fazem.
Pergunto-me quantas vezes não percorro as minhas léguas apenas em busca do cheiro da minha mãe. Há uns dias, como naquele último, em que não o encontro logo, nem ela mo reconhece a mim. Depois, à despedida, porque é sempre à despedida, consigo sentir e cheira-me, de forma absoluta, intrínseca, definida e definitiva, a mãe.
Curioso este texto. Esta questão dos cheiros das pessoas e das saudades que nos trazem foi tema de conversa à hora do lanche com as minhas filhas.
ResponderEliminarÉ um reflexo puramente animal, mas que se revela sem muitas vezes darmos por ele.
EliminarMuito bonito este teu post.
ResponderEliminarConcordo ,talvez seja apenas um reflexo, mas o teu é um reflexo de ternura e de amor.Linda estás imparável!!! Cada dia escreves melhor. Os meus parabéns! Deve ser bom saber escrever assim.
Obrigada.
EliminarSem ataques nem achaques, por acaso sinto-me a perder qualidades de dia para dia. Mas obrigada na mesma, de novo.
Sou tanto mulher de cheiros!
ResponderEliminarQue belo texto, Linda! Belo e terno!
Beijos :)
Também eu, Maria. Os cheiros de coisas queridas e das quais tenho saudades, quantas vezes inesperados, paralisam-me, só para ficar ali um bocadinho a senti-los...
EliminarObrigada, querida (logo tu!)
Beijos :)