Por acaso, ando há dias a pensar na chatice que é um gajo ter que limpar o cu.
Um contorcionismo desumano, uma despesa absurda em papel higiénico, já para não falar da cara de cagão que se faz quando se percorrem os corredores do supermercado com a palete na mão.
Feliz era o Homem primitivo, que zás e siga, arriada que ficava a coisa. Depois havia de se esfregar numas relvas ou numas folhas, ou ia a uma poça de água tratar do assunto. Também não deve ser por acaso que, mesmo no final da defecação, nos acontece aquele mini-chichizinho, que mais não é senão a ancestral solução para a higiene do lá de trás.
Andava eu taciturna por estes pensamentos, quando veio parar aqui ao lar um prospecto.
Por acaso, a capa deixou-me triste e revoltada,
tanto que até comentei, em desabafo:
- Até para venderem penicos têm que pôr uma gaja nua?
Havia alguma necessidade de a senhora estar malcriadamente de costas, exibindo sua zona sacra sem pudor? Havia. Foi precipitado da minha parte. É claro que faz sentido. É lá que tudo assenta. E não se trata de um penico qualquer.
Abri então a caixa de Pandora que encerrava o que veio a verificar-se uma revelação epifânica.
Fiquei particularmente tocada com a existência de jacto de senhora e jacto standard (numa de "se não és mulher, és pessoa"), com a gravação das minhas configurações pessoais (donde, poderei sentar-me sempre com a confiança e a certeza de ser reconhecida pelo vaso), com a luz de presença (que jamais me permitirá enganar-me no alvo e ir sentar-me na banheira ou no lavatório, quando aflitinha a meio da noite), e com o secador pós duche das partes pudendas (para que não sintamos aquele desconforto da roupa molhada ali assim).
Vou já encomendar meia-dúzia, que é o que nós somos, e assim não há filas para a privada, nem lutas corpo-a-corpo para decidir de quem é a vez.
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