Estava a pessoa a pintar os cabelos no salão da minh'Ana — logo, portanto, a iludir-se que disfarça as marcas que a vida não fácil lhe imprime, oh, indelével! —, quando se depara com um anúncio, pespegado numa daquelas revistas que por ali pululam como piolhos (infeliz metáfora para o local em questão, reconheço).
Pois bem.
Eu, que tanto amo de paixão quase carnal a língua portuguesa, pretendo pôr os pontos nos ii desta verdadeira questão fracturante, que é chamar miúda a tudo quanto é cepo até à idade da tripeça. Chamar miúda a uma mulher de mais de 25 — e já estou a ser generosa — equivale, na estrita acepção dos termos, a chamar velha a uma mulher de menos de 25 — hoje estou um poço de generosidade. É uma ironia —, e, por isso, desagradável —, uma hipérbole —, e, como tal, havia de ser assim tomada —, um eufemismo —, que, como tal, tem como intenção suavizar, substituindo-a, uma expressão ofensiva. Por qualquer razão que me escapa, a idade dos 35 é aquela, por excelência, em que todos os amigos chamam miúda a uma mulher, provavelmente por não poderem chamar-lhe tia. Ou avó. Eufeminam o termo.
Ora, convenhamos: isto vem na senda daquela teoria bacoca de que os 30 são os novos 20 e que os 40 são os novos 30. Não são, não. Migues, enquanto pensarem assim, vosso corpo continuará a somar os anos que lhe correspondem, só que na década seguinte à que julgam ter. Vossos úteros amadurecerão (vá que não disse envelhecerão, hoje acordei assim. Já ligo para o Patriarcado, a saber se há lá vaga para uma canonização), vossas trompas esvaziarão. Continuarão a sentir-se umas miúdas, mas o corpitcho não percebeu o recado e desistiu de esperar. Mas, em compensação, haverá médicos, namorados, maridos, mães e amigas que vos aturarão a neura da infertilidade. Fora, é claro, as figuras que andarão a fazer por esse mundo fora, a sentirem-se umas garotas, de mochila às costas e a acampar nos festivais de música, no meio de... miúdas (true, true, são mais frequentes do que pensais, que eu possuo fontes).
Não confundais jovialidade com atraso no amadurecimento, pelo vosso bem e da Humanidade. Miudagem já nós cá temos que chegue, e faz o seu papel na perfeição.
(Hoje acordei JAS?)
(Ou há coisas que nunca mudam? Eu já sou assim, velha e rabujenta, há anos. Em compensação, julgo que tenho menos dez anos do que tenho na realidade. Ou vinte? Continuo a achar que os meus pais fizeram o mesmo que os pais daqueles jogadores de futebol, sabem?, só que ao contrário: registaram-me muitos anos antes de eu nascer. Ainda nem se conheciam, pelas minhas contas.)
(Ou há coisas que nunca mudam? Eu já sou assim, velha e rabujenta, há anos. Em compensação, julgo que tenho menos dez anos do que tenho na realidade. Ou vinte? Continuo a achar que os meus pais fizeram o mesmo que os pais daqueles jogadores de futebol, sabem?, só que ao contrário: registaram-me muitos anos antes de eu nascer. Ainda nem se conheciam, pelas minhas contas.)
(Do Patriarcado continuam a não atender. Vou experimentar com número oculto.)
Como concordo contigo. Não tenho essa "coisa" de teimar com a idade, é o que é e até pode ser um posto. Nunca serei desmoralizada por uma ruga, já pela Tena... isso é coisa para me deitar abaixo.
ResponderEliminarÉ um disparate, teimar com o imutável.
EliminarOlha, até acho de mau gosto a insistência no assunto incontinência quanto às mulheres. É mais frequente, mas não é exclusiva. Mas é sempre uma mulher que se chega à frente nos anúncios. Agora, "miúda", parece que estão a fazer pouco das pessoas.
Nem quero pensar nisso.
E, como já reparaste, é um anúncio à Tena Lady... Parece que a sra. vai usar fralda e ficar parecida com um bebé.
ResponderEliminarBeijocas, Lindona :)
Forever young com Tena?
EliminarVai-se a ver e é o segredo da eterna juventude...
Beijos, chérie :)