08/08/2016

Por pouco não nasci na terra dos grilos

Podia ter nascido no Alentejo, porque foi de lá que me chegou a minha mãe. Os Verões eram, em parte — numa parte crucialmente importante — passados a correr nas ruas sem carros, a bater à porta de todos os primos e a perder a conta aos gelados de água, seguros em mãos que eram pequenas, meladas da groselha (que também se espalhava de alegria pelas caras, já de si vermelhas de vida), cheias de poeira e sol, que é aquela mistura indelével que tatua um tipo de felicidade que fica para sempre. 
Havia grilos, à noite, que cantavam à desgarrada com a escuridão, como se a festa só pudesse terminar de madrugada. E nós achávamos que eles eram também nossos primos, por tanto cantarmos como eles. Invente-se alentejano, ainda que não dos sete costados, como nós, que não goste de uma boa cantoria, e ter-se-á inventado uma espécie nova, mas insobrevivível. 
A cidade está cheia de cigarras, aflitas com o calor. Gritam todo o dia, durante as horas de sol, à desgarrada com a luz. Se fechar os olhos, debaixo de uma árvore qualquer, ouço os grilos e volto ao Alentejo, cheia de poeira e sol.

4 comentários:

  1. voltar... isso era muito bom :)

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  2. volto algumas vezes, não tantas quantas as que deveria. Mas já não me encontro lá, tão intacta :)

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  3. Também bebias água fresca, de um pote de barro, por um cocho!?...são tão boas estas memórias. <3 :)


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    Respostas
    1. Sim! Sim! Sim! Cocho de cortiça!
      Não existe, em parte nenhuma do mundo, água mais fresca do que era essa! :)

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