Ela fez voluntariado no Banco Alimentar, distribuindo sacos, à porta do supermercado. Os sacos deixaram de ser de plástico, talvez não por uma questão ecológica, mas sim por uma questão lógica: provavelmente, a muitos serviriam para carregar as suas compras. Tal fenómeno verificou-se nos anos anteriores, já para não contar com os sacos aceites à entrada, e logo abandonados, vazios, nas prateleiras. Mais valia dizerem que não queriam receber e depois dar. A nossa pobreza nunca pode chegar ao extremo de ser envergonhada. E a do espírito até costuma ser orgulhosa, daí que seja incompreensível que se forje uma colaboração que já se sabe que não se vai fazer acontecer.
Imagem retirada da net |
Ainda assim, viu pessoas a sair do supermercado com as suas compras arrumadas nos sacos de papel, vazios de comiseração e solidariedade, cheios de soberba e automimos. Ceias fartas, aquelas.
Também ouviu da boca de quem não aceitou o saco, Vão mas é trabalhar! — exclamado num desabafo de absoluta miséria humana, inaceitável, porém incontestável, porém inqualificável.
E viu um rapaz, sujo e desgrenhado, de robe preso à cintura, sair do supermercado sem saco do Banco Alimentar na mão (provavelmente, escapou à entrega), mas dois sacos grandes de frutos secos entre as mangas, que passou no cesto de recolha, parou, olhou com os olhos, retirou um terceiro saco de frutos secos do bolso do robe e depositou-o, com a delicadeza e entrega que, com toda a probabilidade, poucas pessoas empregam, no momento em que lhe dão a ele uma moeda [Ah, é para a droga].
Também vi isso, os sacos espalhados pelas prateleiras. Fui com macaquita comprar um presente de aniversário para uma festa que macaquito foi convidado. Escolhemos o presente e ela pediu-me qualquer coisa do Frozen, disse-lhe que não podia ser, que não tínhamos dinheiro para tudo ela acha que lhe faz falta. Dei-lhe a escolher, encher o saco do Banco Alimentar com comida para meninos que não têm tanto quanto ela ou o brinquedo, ela escolheu doar, com a lágrima no olho mas escolheu doar. E no fim, quando o foi entregar orgulhosa, exigiu um beijo à senhora que o recebeu.
ResponderEliminarQue bonito, Be. Lágrima puseste-me tu agora a mim.
EliminarA educação pela dádiva, pela entrega, pela preocupação com o outro (a tal compaixão, que escusa de ser estritamente católica) — isso é um trabalho teu, lindo.
Observar a miséria de espírito pode servir de incentivo para querer marcar a diferença. Pode ser pedagógico também. Parabéns pelo rebento :)
ResponderEliminarUm beijinho, Blue
Chegou ao fim da jornada voluntária, tão chocada, que entrou no supermercado e encheu um saco — para, por sua vez, "fazer volume" no total. Vai no bom caminho :)
EliminarObrigada, minha querida Miss Smile.
Um beijinho também :)
Olha, a mim deram de plástico por acaso (em 2 sitios diferentes). Bem, já achava mal as pessoas q abandonavam os sacos nos carrinhos ou isso (sp imaginei q tivessem vergonha de n aceitar...) mas usar para as próprias compras. Isso é muito mau.
ResponderEliminarE mandar os miúdos trabalhar, é o fim da macacada...
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