Pergunta-me se lhe dou a quinta-feira, dos dias que ainda tem para gozar de férias. Baralha-me um nico, este raciocínio, pois se os tem, não lhe estarei a dar nada. Ainda assim, armo em benemérita, e respondo, entre o estupefacta e o sinceríssima:
- Claro que sim.
Acabava aqui a conversa — se ela não falasse tanto.
- É que este ano combinámos com uma das minhas irmãs [tem três, ou seja, histórias para contar a multiplicar por quatro, tendo em conta que as próprias também são para consumo alheio, nem que seja à força] passar o Natal lá em casa dela, que é na outra banda, e ela quer que eu faça as filhós e as rabanadas, porque ela não se ajeita. Aliás, não se ajeita com nada que seja de cozinhados. Então, desde que teve a miúda, parece que ainda está pior, atrapalha-se com a casa e com o trabalho, não é capaz de dar conta daquele recado, nunca tem tempo para nada, está sempre cansada, quer é encostar no sofá, e depois chama-me para estas coisas, já as outras duas é a mesma coisa, o que querem é que eu vá lá fazer as coisas e elas encostam-se todas a conversar, o que vale é que eu levo a minha Tatiana e ela sempre me dá uma mãozinha, porque aqui a mula é sempre a mesma, ninguém faz nada e eu passo o Natal na cozinha, encostada ao fogão, mas se eu não for, até acho que ninguém come...
Lembro-me, vagamente, naquela fase em que estava a entrar em anestesia geral, de ter dito qualquer coisa como "Encoste-se também, aprenda com quem vai à frente. A solução é um copo de vinho tinto", tudo por me estar a lembrar daquele jantar de sábado em que, antes que me calhasse o carrego da terrina da sopinha e do pirex do bacalhau, bastou-me escurropichar um copo de vinho tinto na altura das tostinhas com queijo, que apaguei geral, e já só dei para monossílabos o resto da noite. Creiam-me que até pestanei pesado no momento em que o dono da casa fez uma prelecção subordinada ao tema "Os meus trabalhos actuais", vulgo actualização pública e verbal do curriculum vitae. Não há melhor desculpa para não nos conseguirmos desalapar do sofá, do que uma dor na anca que não nos larga (a dor, não a anca), ou um vinho qualquer, em que até podemos acusar os donos da casa de lhe terem deitado quebranto, só para nos porem fora de combate.
Fundamental esclarecer :
ResponderEliminarMonólogo antes ou após peq. almoço ?
Em jejum ... dá para falecer com crise aguda de hipoglicémia.
Só de ouvir Tatiana ,esquece !
LP sofre...
Bem depois. Quando ela entra, já eu fiz a digestão do pequeno-almoço :)
EliminarTatiana é muito requintado. É russo.
Eu sou uma vítima de mim mesma, já disse!
Gosto da desculpa do vinho.
ResponderEliminarEm faltando melhor, serve que nem uma luva.
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