30/11/2015

Casaco de pêlo de gato

Durante o Verão, deixei, por diversas vezes, que Dona Mel Maria subisse para cima do bloco de gavetas do armário onde tenho os casacos de Inverno pendurados, e lá dormisse sestas inteiras. O meu casaco favorito é preto e Dona Mel é amarela. Ora, conforme é sabido, os gatos apreciam tudo o que é quente, e é preciso que esteja uma canícula de ananases para entrarem em modo onda de calor, esparramados pelo chão, a receberem a brisa que vem da frincha das portas. De resto, onde haja uma nesga de sol, um raio de radiador, um fofo onde alguém esteve recentemente sentado, that's the spot. E, regra geral, por uma questão de mimetismo, deitam-se em cima de superfícies que tenham a sua cor. Por isso, a Mel deita-se no soalho ou em cima de casacos e mantas amarelos, e a Mia tem preferência por roupa preta. Só que o meu casaco preto estava pendurado, e a Mel, apesar de amarela, encostou-se a ele vezes suficientes para mo transformar, verdadeiramente, num casaco de pêlo. Impossível levá-lo à rua vestido, a menos que fosse metido numa trela e a gritar-lhe Bobi, aqui, já!, de vez em quando. Se a experiência me dizia que, para tirar pêlo de gato dos tecidos, nada melhor do que a escova para escovar (ai o pleonasmo) gatos (aquela que uma pessoa compra e depois nunca usa, que os gatos não são parvos), desta vez, a excepção abriu-se de par em par e a escova mais não fez senão mudar os pêlos de lugar — da manga para a gola, de cima para baixo, um verdadeiro festim piloso. Também não percebi como é que a gata se encostou à zona das bainhas do casaco e havia pêlos até à gola, passando pelos ombros e sovacos incluídos. Vai, então, de molhar a escova, que é outro truque daqueles aprendidos há umas décadas, com a minha titi. Então, era ver os pêlos a mudarem de lugar, mas molhados. Uma nojeira. 
Depois de ponderar meter o casaco na máquina, atirá-lo pela janela, dá-lo à gata para que acabasse de o tingir de amarelo, tornar-me eremita com ele vestido, metê-lo no presépio a fazer de camelo de um rei mago, etecetera — e já com algum receio que o destino do casaco fosse o mesmo do meu vestido verde de Verão (basicamente, transformado numa batata frita), surgiu-me uma ideia absolutamente luminosa, embora não envolvesse lanternas: depilar o casaco. A cera estava mais ou menos posta de parte, não fosse agarrar-se toda, pelo que improvisei umas bandas de fita-cola grossa, daquela de isolar rodapés e interruptores aquando das pinturas, e, assim, retirei os pêlos ao meu casaco que, embora tendo ficado careca, voltou a ser preto. 
Aproveito esta ocasião — porque, no fundo, o post era para isso — para explicar por que é que tenho fita de isolar coisas em casa: é que eu, para além de coser (à mão e à máquina), bordar, tricotar e crochetar, cantar e dançar como uma profissa, ainda pinto paredes, quando é necessário pintá-las. Em certa ocasião, pintei o quarto do rapaz. Adivinhem lá de que cor. Pois. Devia ter usado uma tinta mais clara, que a que usei o escureceu um nico, mas ficou fixe. Também podia tê-lo pintado de cor-de-rosa, uma vez que o azul e o rosa são construções sociais (acho que nunca disse nada tão hipster). Mas pintei de azul, porque o mar é azul e é de azul que ele gosta * (e eu, tá?).


* in Paulina vestida de azul (sou mesmo culta, ó ié).

6 comentários:

  1. Por acaso pensei que fosses mergulhar o casaco em azeite.
    Afinal não.
    Uma pena.

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    1. Ainda me lembrei, mas como o problema não era nódoas de gordura, desisti antes de tentar. Mas, se me disseres que o azeite tira pêlo de gato, é já.

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  2. LP,

    Nada de invenções !

    pt.5asec.com/pt/find-5asec-in-moscow

    ;)

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    1. A fita-cola arrancou o pelame todo, aquilo é melhor que o laser alexandrite!

      :D

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    2. Ahahah. Já sei como vou tirar o buço p a proxima ;)

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    3. Mais eficaz que gilette! :)

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