11/04/2015

Ruído

Todos temos uma pessoa assim, nas nossas vidas, agitadora de ruído, fazedora de ruído. Não só faladora, não só conversadora de treta, impingidora, até ao limite do insuportável, ruidosa.
Não é a mesma coisa que ser barulhento. Barulho, fazem as crianças pequenas, atirando objectos para o chão, dando gritos de alegria, de cansaço, de fome, de sono. Não, trata-se de uma raça, subraça ou subespécie de adultos ruidosos, que se convencem que nós precisamos de companhia. Mais grave ainda: que nós precisamos da companhia deles. Ou, ainda mais: estão-se tão nas tintas para nós, e tão seguros de que o que têm para transmitir ao mundo é de extrema importância, que nos invadem o espaço, com informações do estilo "O meu tio foi avô pela segunda vez"; "A minha irmã já teve bebé, mas eu não concordo com o nome que ela vai dar ao filho", ou então com máximas ao nível de "Parece que vai chover toda a semana". Caem-me lágrimas mentais quando ouço "Ontem um homem matou o filho de três meses, à facada", ou qualquer outra novidade versada, mas depois esmiuçada e esventrada até à náusea, pelo pasquim que nasceu após coito entre o Jornal do Incrível e o Diário de Notícias. Até já tenho saudades do 24 Horas. Esse  sim, é que era bem apanhado. Coisas lindas, que guardei daqueles tempos áureos não sei de quê.


Pá, a sério: eu também leio notícias e ouço rádio, não tenho estado em coma estes dias.
~
Os chatos apercebem-se de que são chatos?
E nós, quando estamos a chatear alguém, damo-nos conta de estarmos a ser chatos?
Uma vez, estava a levar uma seca gigantesca, numa festa (imagine-se). Não sei porquê, as melgas sentem uma irresistível atracção por mim. Quem me veio socorrer, e tirar-me daquela situação, foi a mulher mais chata do mundo (não sei como é que ainda não levou o prémio do Guiness, ou assim). E eu pensei que me ia safar em beleza, ou seja, que, naquele pequeníssimo intervalo que ia acontecer, na passagem de uma seca para outra, inventava uma vontade de cocó e pirava-me. Mas é que não. A segunda chata ficou a arengar-me a paciência por mais uma hora.
Festa estragada, porque a minha bondade e o meu espírito de abnegação e sacrifício não têm limites.
~
Chatos do mundo: ide-vos encher de chatos!

10 comentários:

  1. Olá , L P !

    Melhor ainda ,
    Chatos do mundo: ide-vos encher de chatos de toda e qualquer espécie.
    Os "chatos " são diferentes do bicho da seda...não precisam de casulos para se multiplicarem.

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    1. Olá, Magalhães!
      Era a esse tipo de chatos que me referia, precisamente.

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  2. Anónimo12/4/15

    Há uma diferença considerável entre os chatos dos pasquins que referes e os chatos das festas. Os primeiros ganham dinheiro, muito, a serem chatos. Por isso assim vão continuar.

    Beijos

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    1. Tens razão. Os dos pasquins, só consome quem quer, os outros invadem-nos e dificultam-nos (pelo menos, a mim, por questões de delicadeza idiota, vulgo hipocrisia) a tarefa de nos livrarmos deles.
      Fiz uma má ligação entre as ideias :)
      O que eu queria dizer é que a morte de uma criança não é indiferente a ninguém, porém os chatos de tudo, até disso, fazem ruído. Esquecem-se que os outros também leem notícias ou podem não estar interessados em debater aquele tema.
      Chatos da porra :P

      Beijos

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    2. Anónimo12/4/15

      :-) A ligação não foi má. Eu concordo contigo, ambos são chatos. Mas os primeiros muito dificilmente irão mudar.
      Bom...pensando bem, os segundos também. Principalmente enquanto existirem pessoas com o teu espírito de abnegação e sacrifício para os ouvir! ;-)

      Beijos

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    3. É isso. As pessoas como eu, acabam por ser mentoras de chatos, estimuladoras. À nossa maneira, umas chatas também :D
      Quanto ao resto, continuo a concordar contigo :)

      Beijos

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    4. nos cá por casa matamos sp o assunto com um "não vamos falar nisso, sim". Estranhamente resultou. As pessoas n compreendem q há assuntos q n necessitam de ser debatidos à exaustão. E de resto tb n havia necessidade de abrirem os telejornais matinais, mas enfim...

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    5. Nenhuma, mesmo.
      Deslargavam, desempatavam, desamparavam a loja, e nós já desanuviávamos...

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  3. Bom dia , L P .
    Só resta uma solução.
    Carruagens de metro com a indicação -" Apenas para chatos", para viagens chatas ,todos bem apertadinhos e acompanhados pelos designados (Phthirus pubis). Era só poupança , sem bancos,viagem tudo de pé... acompanhada pelos inevitáveis e permanentes movimentos de bacia... Viva o chato para homo sapiens chato !
    Beijo,
    Magalhães
    Nota: já estou com cócegas. ;)

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    1. Bom dia, Magalhães (já é boa tarde, mas eu ainda não almocei).
      A divisão das pessoas, dentro do metro, levar-nos-ia longe...
      Deveria começar pelos cheirosos, só depois os chatos. Isso é que era de valor.
      Beijo
      LP
      Nota: Cócegas, ou comichões? :D

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