Não houve alternativa nenhuma, e a situação voltou ao início. Ter em casa uma pessoa com muita idade e a perder autonomia de dia para dia é não só uma irresponsabilidade - é um perigo constante. A solução é escolher a instituição, casa de acolhimento, lar de terceira idade - o que lhe quisermos chamar - melhor possível. Neste possível, cabem as condições humanas, de segurança, conforto, higiene, financeiras, etc.
Agora tenho-a tão longe como antes. Preciso de atravessar uma estrada que me leva os dias e a alegria de viver. Vou na direcção do mar, o meu mar, que sempre me trouxe o melhor de mim, e o azul todo que tanto me falta para respirar e, no entanto, não me faz melhor pessoa em nada, neste momento.
O local é mais arejado, mais solarengo, mais rodeado de árvores e de vida. Entro na sala, gigantesca, onde estão as trinta pessoas que ali vivem, minha primeira morada tão querida incluída. Estão também outras pessoas, visitas, família, amigos.
Entra uma senhora, a passinhos, olha a toda a volta e pára diante de mim. Olhamos uma para a outra, os olhos dela, tristíssimos, adentram nos meus, já secos de incapazes de tanto chorar daquela tristeza que é ver a minha mãe tão pequena. Ela avança, em silêncio, dá-me um beijinho na cara. Abraço-a e dou-lhe outro. Ela devolve-me mais um, quando me volto a sentar, desta vez beija-me nos cabelos, como uma avó, que vê chegar um neto da guerra, carregado de fantasmas e feridas, acolhendo a sua cabeça torturada no regaço.
Eu beijo nos cabelos as crianças e os velhinhos. São beijos de protecção, de mimo, mas também de amor incondicional. Uns e outros recebem sem terem que dar, e dão tanto, mesmo sem beijar. E recebi beijos nos cabelos, de mais uma avó que agora tenho.
Eu também os beijo nos cabelos. Isso ou na testa. E a ti, dava-te também um, agora, minha querida Linda.
ResponderEliminarMas eu recebi-o, Pandinha.
EliminarE vai um para ti, de mim.
As avós nunca são de mais, tal como os beijos de protecção e de mimo :)
ResponderEliminarNunca tive tantas e tantos como agora. Sou uma afortunada :)
EliminarUm beijinho grande!!!
ResponderEliminarObrigada :)
EliminarUm meu para ti, dos grandes, também.
Vemos neles uma fragilidade que nunca esperámos encontrar -- e antevemos outra, a nossa, a que não queremos assistir.
ResponderEliminarVemo-nos, num espelho comovente e cruel.
EliminarFelizmente a minha ainda consegue aguentar-se em casa. Mas durante o ano em que esteve numa casa de repouso (fantástica, devo dizer) os meus fins de semana eram uma canseira. O lar ficava a 70 Km de distância de minha casa e ela ficava para morrer se eu não ia lá Sábado e Domingo. Vi-me trilhiões de vezes a adormecer ao volante. :S
ResponderEliminarÉ um desgaste enorme. Mas consegue ser maior se não formos.
EliminarA minha distância é de 30 ou 33 km, que eu faço em situação de abuso, de mim e do carro, indiferente à chuva, à luz, ao vento e a mim. Tenho tido um anjo qualquer - o meu pai? - a impedir que me estoire naquela maldita A 5 :(