26/09/2014

Isto há-de ser uma espécie de stress pós-traumático...

Lisboa, segunda-feira, basicamente, afogou-se.
Lisboa, quinta-feira, um dia perfeito. Eu quero morrer num dia assim, que é para não doer tanto. Nem uma brisa, nem um grau a mais, nem um grau a menos. Nem mesmo um grau de humidade, e eu com um cabelo lindo, que é como eu o vejo lindo. Dominado, um leãozinho meigo. Um céu azul daquele azul que só a Primavera traz, o azul de uns olhos azuis que eu nunca vi, só pontuado com uma ou outra nuvenzinha branca, como o Futebol Clube do Porto, carago, ou como os desenhos das crianças, que têm sempre céu, sol, nuvens, uma casa, com chaminé, fumo a sair e um caminho a sair da porta, que vai dar ao fim da folha de papel. Uma pessoa da minha idade tem pensamentos assim, que dia tão bonito para se morrer, a duzentos à hora contra um muro, haverá morte mais santa, quais agora a dormir? Se forem como eu, com sonos tortuosos e pesadelos amiúde, a morte a dormir é uma piada de mau gosto que de santa não tem nada. Ainda assim, a da velocidade está fora de questão, nem o meu super-carrinho atinge essas velocidades nem eu carrego no pedal com essa força toda. E também ainda não tenho pressa.
Até sonhei acordada, só acordada é que consigo sonhar sem que o sonho se transforme em pesadelo, em ir à praia este fim-de-semana. Só posso ter sonhado.
Lisboa, sexta-feira, estou farta de ir à janela. Todos os ruídos da rua me dizem que está a chover. Se calhar é só por ser sexta-feira e por ter perdido, há uma semana, precisamente, o meu Artur. Que nunca foi tão meu como agora, que já não é. Se calhar é só de ser sexta-feira, dia de morte.
Nunca sei quando é que estou a falar a sério.

2 comentários:

  1. Aqui não vai dar para ir à praia. E por aí, o sol está firme?

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    1. Não, nem por sombras... era sol de Primavera, mesmo, hoje nem isso...
      Deve ser uma das tais ondas de calor que não prejudicam a saúde, nem ninguém as vê.

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