Estava eu hoje a pensar assim: "Tem graça, neste trabalho ainda não me enganei vez nenhuma", quando reparo que, a semana passada, cometi um erro crasso, imperdoável e que até me pode custar o lugar. Aquela sensação de o sangue se nos evaporar das veias todo de uma vez, mas subir à cabeça e ficar lá a latejar e a borbulhar, sabem? Estive quase meia-hora em piloto automático, a cumprir tarefas daquelas tipo limpar o cu, que uma pessoa faz sem pensar e de olhos fechados, pensando para comigo: "Porra, que já é azar. Nem o mês de período experimental sou capaz de acabar. Nem a mim mesma dou a oportunidade de, no final deste mês, dizer à chefia 'Eu vou-me embora, porque não gosto lá assim muito disto, no fundo'". Não. Expulsa por indecente e má figura, era o que eu imaginava, para já. Ainda pensei em sair porta fora e não dizer nada a ninguém, amanhã já não ia e mandava dizer que tinha morrido. Mas vai-me saber bem o ordenado e eu quero tirar o pneu. Eu disse bem, tirar o pneu. Sou magra e gira e tenho um pneu que mete nojo. E ando a trabalhar para tirar o sobresselente. Vai daí, pensei assim também: "Porra, Linda Porca, mas tu és uma mulher ou és um rato?". E todo o meu suor me dizia: "Um rato!". E pensei: "Mas quem é que veste as calças aqui?". E dizia-me a minha tensão arterial: "Vai à merda, essa não é deste filme, pá". Até que pensei: "Mas tu tens tomates, ou não?". Aí sim, levantei-me da cadeira, fui direita à capataz mal encarada e disse-lhe: "Enganei-me aqui nisto". E mostrei-lhe o meu erro, sem rodeios, sem flores, sem delongas. Ela ficou tão seca como sempre, nada a molha, e, imperturbável, disse-me a forma de sanar o erro. Que eu sabia qual era, mas, para mim, é importante assumir as merdas antes que estoire a bomba na minha cabeça, quando eu menos espero, e cheia de estilhaços. E a experiência diz-me que, se me vou meter numa arena, o melhor é encarar o boi de frente. A vaca, ou lá o que é que me calhou desta vez.
Merda dá sorte, não é?
ResponderEliminarAcabei tendo!
EliminarJá me tinha penitenciado, quase até à falta de coluna vertebral, junto do chefão e da que tem a mania, quando o problema apareceu resolvido por si mesmo, de forma quase milagrosa. Não percebi o que é que aconteceu, mas devo ter uma estrelinha qualquer, enterrada no meio da merda :)
Maravilha :)
EliminarLi o post, depois os comentários anteriores.
ResponderEliminarTens uma mãozinha a segurar-te a peidola aí na usina, olá se tens. Mas tomaste a atitude certa em chegar-te à frente com o erro. É preciso coragem para admitir que se erra perante os outros, seja os de cima, os do lado ou os de baixo!
Chama-se a isso coluna vertebral!
Foram só dois meses, de um trabalho temporário...
EliminarMas aquilo aconteceu logo na segunda ou terceira semana, nem sei como não vomitei o teclado todo.
Olha, pode ser coluna vertebral, mas é muita experiência a dizer-me que, se não detono agora a granada, ela transforma-se numa bomba atómica que me acerta em cheio.