22/08/2021

Air-podes

Não sei se alguém, algum dia, alguma vez, se debruçou sobre a anatomia dos airpods, aquelas duas pecinhas semelhantes a aparelhos auditivos com cauda, que a Apple (ler áple) criou, para gáudio não sei de quem. A principal questão daquilo é exactamente a sua configuração, ou probabilidade de adaptação a todas as conchas (fui estudar, sim) de orelhas do planeta: aquela rigidez, tanto ao nível da cabeça como do cabo (antena?) serve para todo e qualquer buraco auricular, sendo certo que inclusive a mesma pessoa chega a ter dois canais diferentes (guilty!)? Quanto aos outros, mantenho firme e hirta a minha ignorância, mas, quanto à minha pessoa, quanto a esta única que me pertence — euzinha —, cada orifício é um orifício, e as entradas das minhas orelhas, apesar de detentoras de uma beleza irracional, são subtilmente diferentes uma da outra: tudo o que é auricular tem melhor adaptação num lado do que no outro, e isto referindo-me àqueles ditos normais, que vêm munidos de uma esponjinha, ou então de uma borrachinha. Há sempre um que salta fora mais vezes do que o outro, e, ora, assumindo que as peças são iguais (ou "em espelho"), só pode ser o desenho das minhas orelhas que é desigual.

Ainda não falei sobre o preço dos airpods, pois não? Também não vou falar.

Digamos que entendi necessitar de um par deles e me calhou em caminho, em passeio pelo bairro, o estabelecimento comercial de um senhor vindo lá da terra das especiarias, e então, porque sou amiga do incentivo ao comércio local, e ele havia exposto na montra uns airpods iguaizinhos aos da Apple, tomei a decisão de entrar. Travámos um curto e ininteligível diálogo — o homem só fala Inglês, mas dá-se que não entende uma palavra do que se lhe responde. Ora, o meu Inglês é parco, mas porra, desde que não pontilhado de "porras", entende-se perfeitamente —, que terminou numa espécie de linguajar gestual da minha parte, e então lá carreguei comigo uns airpods completamente iguais aos originais, por cerca de um sexto do preço dos ditos.

E eu feliz.

E sim, também se confirma: um deles salta-me da orelha mais vezes do que o outro.

E não, o comportamento não é igual ao dos da marca. Mas o que é que isso interessa? O que é que interessa, realmente, que uma gaja me grite aos ouvidos “connected" cada vez que os ligo a Ai-fostes? E que me avise, dois tons acima do aceitável para pessoas educadas, “R off”, a cada cinco minutos de audição? Quer dizer, acho que é o que ela diz, pois, na verdade, o que se ouve é: "Arr off". E também piscam luzinhas em azul e em vermelho, ora um, ora o outro, num majestoso pisca-pisca de dar gosto ao olho.

Olhem, se não servirem para mais nada, são umas razoáveis cotonetes: sai de lá cera suficiente para fazer uma vela de baptizado, nem se percebe como. Capaz de ter encontrado ali um nicho.



2 comentários:

  1. :-))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))))
    como sempre :-))))))))))))))))))))))))))))))))))))))

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