18/03/2020

Street

No Verão passado apareceram na minha rua dois pequenos gatos, talvez com quatro meses de vida. Nessa altura, ainda tinha a minha Mia viva, ou seja, tinha duas gatas em casa, pelo que não me passou nem de longe pela cabeça adoptar mais um, quanto mais, mais dois. De qualquer modo, achámos - porque nem sequer foi iniciativa minha - por bem deixar um pouco de alimento e água aos gatinhos, que, como todos os animais de rua, pareciam precisar. Os dias foram passando, depois as semanas, os meses, e nós sempre a deixar um bocadinho de ração, latinhas, pescada de sobras nossas (o que eles se pelam por peixe cozinhado!). Um dos gatos é preto com malhas brancas, desconheço se é um macho, mas recebeu o nome de Street, que dá para todos os sexos, enquanto o outro, tigrado com mais de duas cores, certamente uma fêmea, foi "baptizado" de Juliana (don't ask). De resto, Juliana tem vindo a engordar de tal forma que, ou muito me engano, ou qualquer dia dá frutos (Coisinha, Clavícula, Meu Óculos e Gil Prada, tudo nomes possíveis para a ninhada que se anuncia). 
É ao cair da noite, pelas 19:30, que desço à rua e vou deixar a refeição dos "meus" gatinhos. Esta era, até há pouco, uma hora sossegada, com menos gente e movimento de carros. Agora todas as horas são de um sossego inquieto, mas Street - que é muito mais fiel à refeição do que Juliana - não sabe nem sonha o que se passa no mundo, e é a essa hora que me espera, os olhos como duas lanternas acesas, metido debaixo de um carro, ali perto da caldeira da árvore onde costumo deixar-lhe o sustento. 
Espero que, sendo decretado o estado de emergência, abram excepções como em França: alguns trabalhos, compras básicas, assistência a idosos, passeio de animais e prática de desporto, desde que não em grupo. Porque eu, garantidamente, e pontualmente às 19:30, vou descer até à rua para alimentar meu Street, e, quem sabe, a sua companheira Juliana. Nem que tenha que vestir o traje desportivo, nem que tenha que alugar um cão. 

4 comentários:

  1. Em principio vai poder fazê-lo, vamos ver, desejando que sim,

    Boa noite, LB
    Saudinha da boa

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    1. Vou disfarçada de noite, noname, mas vou!

      Boa noite, votos de saúde também

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  2. Um da Juliana pode ir fazer companhia à Dona Molly! Direi mesmo mais, 2 descendentes da Juliana podem ir fazer companhia à Dona Molly

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    1. Adorava. E, sinceramente, adorava mesmo poder recolher Street. Parte-se-me o coração nas noites frias. Mas seria impossível apanhá-lo (nunca sequer se aproximou quando me vê a deixar a comida dele), quanto mais tê-lo em casa após uma vida de rua. Mas adorava mesmo, Ana

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