17/04/2018

Notícias de Bernardo, o meu passarinho

Com a morte de Bianca, minha bico-de-lacre, perpetrada pelas minhas que se quiseram ternas e se fizeram cruéis e desajeitadas mãos, adveio também a viuvez de Bernardo e a minha viuvez de passarinhos em casa.
Havíamos combinado há um tempo que só saberia definir se fosse procurar no tempo, que, uma vez sozinho um dos passarinhos, ela viria buscar o outro, levando-o para outra gaiola — e como me faz sentir ainda mais cruel e desajeitada do que as minhas mãos esta palavra — maior, mais solarenga, com mais companhias. Assim fez, um dia depois de ter tido eu que sepultar a fêmea com as tais mãos, de carrascas a coveiras. Ele chilreava como nunca desde que a solidão havia tomado conta da gaiola, num requiem de desgosto e procura, e então, num gesto que simulou quase perfeitamente a abnegação que não sentia, e mal dissimulava a verdade da minha cobardia em assistir ao sofrimento dele, que passou a ser nosso, deixei-o ir, dorida e aliviada.
Sei-o agora feliz, aninhado nas noites no mesmo poleiro que outra fêmea igualmente desagasalhada de macho.
A minha casa está mais vazia por estes dias. Tal como acontece no coração das pessoas, assim ficam as casas quando nelas se cala o canto de passarinhos.



2 comentários:

  1. Deixaste-o ir? E isso é passarito para conseguir safar-se livre??

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    1. Foi na gaiola, para outra gaiola maior. Não sobreviveria, só fim de uns dois anos presos, não voam mais do que a altura da nossa cintura :/

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