31/10/2017

Ponham-se no meu lugar # 3

Ela arranja-me as unhas de duas em duas, de três em três semanas, dependendo, subjectivamente, das (minhas) luas e, objectivamente, do crescimento das faneras. Portanto, não trabalha para mim, mas também não trabalha comigo. É assim um híbrido.
Pediu-me que lhe visse uns papeis lá do local, pois parece que lhe andam a comer folgas, não só por não lhas proporcionarem, como também por não lhas pagarem. E eu, ai que sim, manda-me lá isso, enquanto ela limava, podava carnes com o alicate e me metia as mãos no forno. No fim, como sempre, paguei o trabalho dela e ainda a agraciei com uma moeda redonda. 
Pim, pim, pim, dezoito notificações no whatsapp, e vai a gulosa e depara-se com nada menos do que dois textos corridos ecrã afora — num Português relativamente ininteligível, dado que ela não é portuguesa —, e mais dezasseis fotografias de documentos. 

Vamos lá a ver: 
1. Ela presta-me um serviço;
2. Eu pago-lhe o serviço;
3. Ela pede-me um serviço;
4. Obviamente, não mo pagará;
5. Ela trabalha para sobreviver;
6. E eu?
7. Hã?
8. Trabalho para aquecer?
9. É uma terapia ocupacional?
10. É suposto fazê-lo de graça, qualquer coisa que me levará, no mínimo, duas horas a analisar e a rasgar uma opinião minimamente capaz?

Pôxa.


8 comentários:

  1. Sei tão bem o que isso é!

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    1. É ficar com a eterna culpa de não me deixar explorar, e a eterna dúvida se não serei uma besta, Ana...

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  2. Anónimo31/10/17

    Aconteceu-me algo semelhante há dias. Como diz um amigo "só acontece a quem acha que é a Madre Teresa de Calcutá".

    AL

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    1. Parece que trago um O na testa, ou sou uma egoísta insuportável?
      Caramba...

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    2. Anónimo31/10/17

      Quando uma pessoa se mostra disponível e solidária há quem aproveite para se esticar. Agiste bem, ela é que não.

      AL

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    3. Está na hora de mudar de manicure, AL. E ficar para sempre, pelo menos para aquela pessoa, com a fama da ingrata arrogante.

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    4. Anónimo1/11/17

      Isso é o que o meu marido diz que eu sou. E depois abusam...E depois são capazes de nem agradecer!! Moral da história: hoje em dia, quando me dão as ganas de ajudar, penso 59 vezes...E também já percebo aquelas pessoas (nem todas, claro) que fazem de conta que não estão cá. São as más experiências. Odeio gente atrevida!!

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    5. E depois ainda nos rotulam de ingratas (?), arrogantes, mania da superioridade, ou sei lá o quê. A sério que já me cansei desse conceito idiota do pro bono. Pro otário, isso sim...

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