06/10/2016

Fui ao cinema e vi dois filmes na mesma sala

A rapariga do comboio.
Mais um que ide ver, ide. Não vou contar a história, porque não está na minha génese. Só adianto que tive uma surpresa com o final, não com o culpado na trama (que estava na cara, nem sequer esse mérito tenho), mas com o desfecho propriamente dito de uma das personagens. Havia perguntado a quem já tinha lido o livro se a rapariga estava morta ou não, e a quem perguntei deu-me a resposta errada.
O que venho contar é o segundo filme a que assisti, extremamente nervosa. Se já o da tela era um thriller, o da plateia foi um mix de surrealismo, ultra-realismo, hiper-realismo e irrealismo. Nunca mais, em toda a minha vida, me apanham num cinema do Colombo. Registo, assino e ponho a data. Não houve uma única gaja naquela sala que não me irritasse. 
Suponhamos que me sentei, já ao som da caixa de pipocas da de trás, ruído denunciado pelo arranhar da unha de gel nos fundilhos da cartolina.
[Segurei-me com a certeza de que nenhum pacote de pipocas é eterno, na exacta proporção da minha paciência.]
À minha direita, sentou-se um casal de meia idade, profunda e sinceramente convencido de que estava em casa: ela relatou-lhe o filme de fio a pavio, para além de ter expressado as suas inadiáveis e interessantíssimas opiniões acerca de todas as cenas, atitudes e mesmo sentimentos das personagens.
[Segurei-me com a certeza de que, caso a mandasse calar, estalaria ali, digamos, uma contenda verbal, a qual me faria perder parte do filme — e aquele é dos que não se deve perder pitada.]
À minha frente, em diagonal, três adolescentes riam às gargalhadas nas cenas mais secas. E também diziam disparates do género "Agora dava-lhe com a garrafa na tromba, que era um regalo".
[Segurei-me com a certeza de que já fui mais ou menos assim, parva e nova, e fiz a cabeça em água a muita gente boa e profundamente intelectual como eu sou agora.]
Mesmo à minha frente, um casal que não conseguiu lugar na fila de trás, não tem casa e também não tem noção: ambos passados dos trinta, não é que foram para os meles para o cinema?
[Segurei-me com a certeza de que quem ficaria a perder seriam eles.]
A que estava atrás de mim, atendeu o telemóvel depois de vários piriris, e disse, alto e bom som, "Estou no cinema".
[Segurei-me com a certeza de que mais vale uma senhora calada do que um telemóvel contra a tela.]
Ao intervalo, já nós íamos no 5-0 com desvantagem para a equipa visitante — eu —, deu-se o reforço das doses de pipocas, pelo que passei a segunda parte basicamente a ouvir ruminar. Tudo elas. Pode ser que fiquem (mais) gordas.
[Segurei-me com a certeza de que estar no campo, ao pé das vaquinhas, é mais perigoso e cheira um niquinho pior. — E sim, havia gente descalça na sala. E sim, ainda faz calor, há quem não pague a conta da água e está cientificamente provado que os sapatos de imitação — muito vegan! — cheiram mal para cornos.]
Mas adorei o filme, e recomendo, não sei se já disse.

4 comentários:

  1. Txii... foi um bocado atribulado, isso :P eu li o livro e gostei muito. Tenho curiosidade em ver o filme mas acho que o vou ver em casa :P

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    1. Também te tinha perguntado a ti acerca do destino da desaparecida, naquele outro post do "Sully", mas tu não me respondeste :P
      Portanto, caí ali de gaiato. Literalmente :)

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  2. Colombo, só lá vou ver filmes quando não está em mais lado nenhum, precisamente porque vai lá toda a chungaria da cidade.
    Lê o que te digo: Alvaláxia é de ouro.

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    1. (Faltou o :P) :P
      Desagua ali tudo o que não consegue desaguar em Carcavelos, pois é?
      Fora os clubismos, concordo. Estive lá a semana passada, a ver o "Sully".
      :P

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