22/07/2016

Cam(nh)urça

É assim quando uma pequena mulher mete uma coisa na cabeça, muito em particular se essa coisa for uma peça de roupa, e em particularíssimo se for calçado: move o mundo, movem-se céus e Terra, mas a coisa há-de surgir, nem que tenha que ser buscada no Inferno, ou num castelo qualquer, após luta com um dragão. Quais espada, quais príncipe, uma mulher que quer uns sapatos, um vestido, aquela mala (hah, nessa não caio eu), desembainha as suas unhas e parte à conquista. E ela queria umas sandálias. 
Por educação ambiental e outras educações de que, sem querer, também serei "culpada", as xanatas não podiam ser de pele, tinham que ter um determinado formato e serem rigorosamente do tamanho do pé dela, pois que a forma pretendida não permite nem mais um número, nem menos um, uma vez que o pé assenta na palmilha, e o resto é rebordo. 
Numa das dezenas de lojas onde entrou, ao encontrar o que procurava, travou o seguinte diálogo com a senhora que a atendeu:
- Gosto destas. São em pele?
- São em pele.
- Então, não quero. Prefiro as de imitação.
- Mas isso não é bem pele. 
- Mas têm aqui o símbolo de pele.
- Mas não é pele. É camurça.
Contou-me ela depois que não disse mais nada, mas pensou Alpes, Pirinéus, cabras, e saiu da loja. Sem sandálias, mas tranquila. 

11 comentários:

  1. Camurça foi a empregada.

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    1. Queria vender à viva força, ou desconhece que existe um animal...

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  2. Acho que já o disse algumas vezes, mas volto a dizer... gosto muito das tuas miúdas, pá! E, obviamente, de quem as formou ;)

    Também já passei por algumas situações dessas com roupa, sapatos e malas. Invariavelmente acabam a olhar para mim como se fosse pelintra, mas cansa-me a beleza estar sempre a explicar que não é uma questão de dinheiro, mas sim de amor...

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    1. :) obrigada :)

      Durante a pesquisa, também passou por isso, claro. Ainda que fosse, parece que nunca ninguém foi novo neste mundo. Hoje, quando finalmente encontrei o que ela queria (mas em branco, e ela queria castanho), e disse que ela ia pintá-las de castanho, a senhora ficou escandalisadíssima. Então, perguntei-lhe: "Algum dia teve 17 anos?". :)
      Mas o caso é mesmo como dizes: de amor.

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    2. Com 17, mas sabe o que quer, então :)

      Pois, ouvi muitas vezes "a pele é muito cara, é?" E eu "não, é de animais que não concordaram em vendê-la, nem receberam nada por ela..." As expressões de espanto eram tantas, que desisti de explicar :p

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    3. Completamente. E ai de quem a tente demover.
      (Agora diz que vai voar: meter-se num para-pente. Quer matar-me do coração.)

      Ela já está assim. Gira os calcanhares e não perde tempo. :)

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    4. *escandalizadíssima

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  3. LOL, pois claro, que camurça não é bem pele. É como o fiambre, não é bem carne. xD

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    1. Às vezes até me parece que o peixe não é bem um animal, e não se importa de morrer.
      :)

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    2. Ai, eu peixe não consigo deixar de comer. Carne já só como frango e perú. Vá, e fiambre na pizza. Mas fiambre não é carne. xD

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    3. Eu também não, mas como carne também. Só não apanho é a lógica da selecção.
      Como sabes, cá em casa tenho de tudo um pouco: das três, já só uma come carne — e é carne branca —, de resto só peixe.
      :)

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