07/12/2015

As coisas que eu vou desencantar ao baú... # 9

A tinta preta é do Mal
(22.02.2010)

Achei importante para a minha maturidade enquanto cidadã desta pequena polis que responde pelo nome de Lisboa tirar o passe do metropolitano, já que o bem-fadado cartão custa 18 euros e dá para 30 dias, e eu gasto um mínimo de 8 euros por semana nas 10 viagens que faço. Nada que o senhor da mercearia não tivesse concluído há mais tempo do que eu, que faço hoje quatro semanas de trabalhadora assalariada naquele novo muquifo, e só me deu a luminosa porque outra cabeça pensante me deu a ideia.

Vai daí, fui perguntar a um guichet do metro se podia tirar o passe nas máquinas - as tais que sabem tanto mais desta vida do que eu, que me fazem repensar toda a minha existência no planeta desde os memoráveis tempos da fralda de pano.

A funcionária que me atendeu esclareceu-me que não, deu-me uns impressos para a mão e disse-me que lhes acrescentasse duas fotografias e os entregasse na estação Avenida, porque lá só levavam um dia útil a fazer o meu passe, contra os quinze úteis em qualquer outra estação. Dobrei o papelote, depois perguntei se podia dobrar ao meio, ela respondeu que só uma vez (talvez ela tenha pensado que eu o ia dobrar mais do que sete vezes, o que nem possível seria, uma vez que está cientificamente comprovado que nenhuma folha dobra mais do que essas sete, por muito grande que seja), e meti-o na mala. Isto é importante porque o papel excede um nico o tamanho A4 e são relativamente raras as malas de senhora com mais do que esse tamanho, logo, defendo a teoria de que as fêmeas deviam ter uma autorização especial para dobrar o papel(zinho).

Então hoje embarquei rumo à Avenida, para conceber o meu passe. A coisa está feita para nos obrigar a gastar uma viagem, porquanto o buraco redondo do guichet está de costas viradas para o torniquete. Temos que dar saída do bilhete e depois, se quisermos entrar no metro outra vez, gastamos outra viagem. A menos que moremos na Avenida.

"Núcleo 69", ouvi eu dizer para uma das três pessoas que estavam à minha frente, a conceber seus passes também. Duas delas foram recambiadas para um objecto igualzinho àquele que os maestros usam para segurar as partituras, e que se chama estante. Ambas para repetirem o preenchimento da papelada. Enchi-me da nervos. Desatei a alisar o vinco ao meio dos meus papeis.

Depois percebi. A tirana que estava no núcleo 69 nunca estava contente com o preenchimento, e é um ser alienígena formatado para estragar a paciência aos do Bem. Ela é do Mal. Quando chegou a minha vez, mandou os meus papeis para trás, através da rodinha do balcão (acho que para não haver contacto físico entre ela e a freguesia). Perguntei o que é que estava mal, porque ó c'um caneco, eu sei preencher documentos.

Então ela disse:
- A senhora preencheu isto a azul, e tem que ser a preto.

(E forneceu-me uma caneta preta que mal escrevia, com a qual eu voltei a preencher os papeis do passe do metropolitano de Lisboa. E preenchi aquilo tudo sem pestanejar pela estupidez dela, porque sou uma pessoa feliz, e as pessoas felizes estão sempre a encontrar saídas para os entraves que as infelizes lhes põem no caminho.)

Passados esforços para que a caneta do Mal escrevesse, e distraída que estava a observar a zona oral da figura - uns maxilares bastante protuberantes, os 32 dentes da dentição adulta a saírem boca fora a cada palavra, uma franja à anos 80 que já só se usa no planeta Zycon 69 de onde ela vem - eis senão quando a alien pega num corrector branco, apaga quatro dos meus cinco apelidos e fica lá só escrito, por hipótese: "Linda Blue V. G. Estrume". Estive para começar a espernear e a gritar coisas deste estilo: "Mas quem corellos é que lhe diz a si que eu quero que na minha ficha fique V. G.? Eu posso ter um complexo associado a V. e a G.!". Mas ela perguntou-me: "Que nome quer que fique no passe?". Doida para lhe dizer: "Giselle Bündchen, e faz favor não se esquece do trema", disse a verdade: simplesmente, Linda. Blue. Estrume.

PS - Ah, custou-me a pressa dez euros. Mais os dezoito do carregamento, ainda levo 3 semanas e meia a amortizá-lo. Ou tenho que viajar mais vezes, para a amortização acontecer em menos tempo. Paul Samuelson, tu fosteS grande, mas eu ainda sou maior!


2 comentários:

  1. LB,
    Muito bem !
    Há que refilar ... deveria constar logo na papelada a preencher essa nota.
    Os cromos formatados para chatear , tb devem ter uma vida difícil e de muita rotina ;( É a única desculpa .
    E ... nem sempre há pachorra .Que o diga o gajo da Meo com quem falei/ "gani" telefónicamente 6ª feira.Teve uma paciência de "santo " para me aturar,eu só gania e espingardava. Coitado do homem ,depois fiquei com pena.
    É a vida ! E o pessoal anda todo enervado .
    Beijo,
    José

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    1. Este episódio tem quase 5 anos (até pus a data). A senhora do guichet já devia ser nervosa, ou era feitio. Nem quero imaginar como estará hoje...
      Beijo

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