13/12/2015

A construção de um dique

Durante muito tempo, guardei águas numa barragem que fiz para mim, retidas em grandes quantidades. Algumas vezes as deixei subir a um nível próximo do incomportável e quase transbordar — por ter que ser, por saber a minha represa capaz de comportar tamanho volume. Outras vezes, senti o nível baixar para alturas aceitáveis de sobrevivência alegre e pacífica — por vontade minha, ou por efeito do sol, que raia com intensidades volúveis e inconstantes. 
Ultimamente, a minha barragem encheu sem que eu desse pela subida do limite das águas, sem que pudesse evitar o seu entornamento. 
[Já cortaram, Papai, faz mais de uma semana que cortaram o meu pé de Laranja Lima.]
Abriu as comportas — e de lá jorra agora uma imensa massa de águas, poderosa e inflexível.
Só construindo um dique as vou conseguir separar.

4 comentários:

  1. Ah, o que tu me foste lembrar, O Meu Pé de Laranja Lima!!! Chorei de todas as muitas vezes que o li!
    As nossas barragens interiores são extremamente sensíveis e propícias a entornamentos...

    Beijo docinho, Linda azul. :)

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    1. Também eu, sempre que o li e das vezes que vi o filme. A metáfora é perfeita. E assentou-me no coração, hoje ainda mais, porque a Mel era cor-de-laranja...
      Isso mesmo, barragens interiores.

      Beijos, Maria :)

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  2. Dique !
    Esse jorrar irá parar !
    Sem a menor dúvida!

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