Nascem todos no Alentejo e vêm morrer a Lisboa, porque aqui passaram a morar, ou porque assim lhes calhou nos meandros dos hospitais. Depois voltam, muito deitados, atravessando o rio pela última vez, na direcção de além Tejo.
São muitos, são imensos, são enormes, também em quantidade. Por isso, de vez em quando, ultimamente vezes a mais, atravessamos o rio juntos e voltamos mais sós, os que cá ficam — em Lisboa, e na vida. Andamos para perder o parentesco uns dos outros, não porque nos tenhamos esquecido, mas por termos a árvore genealógica mais peculiar e ramificada do pomar. Dei comigo a dizer a uma das minhas tias o que só talvez ela e eu consigamos entender — Tia, a tia é minha prima direita, pois se o seu pai era irmão da minha mãe... — e é isto que nos fica, todos entrelaçados no tronco esquisito que o meu avô e os meus tios mais velhos plantaram, por terem procriado raízes ao mesmo tempo.
Hoje, quando atravessei o rio por mais uma vez, que sei não ser a última, lembrei-me da minha Titi — que foi minha mãe, tão mãe quanto a minha mãe —, e de como estava um dia assim, radioso e azul, quando ela fez a travessia, apesar de Janeiro. E veio-me à lembrança uma esperança, que é a de, pesem embora os dias azuis que banham a ponte azul, nunca chegar a minha vez de atravessar o rio tão deitada. Eu quero ficar aqui. E, se tiver mesmo que o atravessar, que seja porque os meus olhos se fecharam além Tejo, e eu estarei, enfim, em fim, a voltar para casa. Num dia assim, azul.
O quê?!?
ResponderEliminarA tua família é Egipcia?!?!?!?!?
(Sorry, brincadeirinha da treta)
Excelente texto!
:)
Olha... às tantas...
EliminarObrigada :)
Lindo, o teu texto, pese ser sobre a morte.
ResponderEliminarQuando os teus olhos se fecharem, seguindo a ordem natural das coisas, os meus já se terão cerrado. Porém, as cinzas espalhadas ao vento norte, irei fazer-te companhia.
Beijos, Lindinha.
Oh, Maria, mas as coisas não têm ordem natural...
EliminarEu também me quero de cinzas, assim bem acompanhadas.
Beijos para ti, rapariga.
Um beijito. (N vamos p novas...acho q é por isso que começamos a atravessar mais vezes o rio...pq não somos as únicas a não irmos p novas....)
ResponderEliminarObrigada, Me. Para ti outro (Faz parte da viagem...).
EliminarE não significará a morte sempre a travessia metafórica de uma ponte?
ResponderEliminarTão bonito, o seu texto, Blue. Tocou-me muito.
Um beijinho e um dia feliz :)
É sim, Miss Smile — uma viagem, uma passagem para outro lado.
EliminarObrigada, minha querida.
Um beijinho também, um dia bom :)
Olá LB !
ResponderEliminarGostei do texto ( como sempre ).
Mas fiquei impressionado com as tuas associações.
Mais natural no teu caso ...devemos ser realistas ... dá para lembrar/ recordar .
Mas ... " voltam, muito deitados, atravessando o rio pela última vez "... fez-me impressão.
Achei uma imagem muito forte .
Beijo,
José
Olá, José
EliminarObrigada.
Os meus eufemismos nem sempre correm bem.
Se soubesses onde fui buscar "a inspiração" de muito deitados...
Uns acabaram de maca, outros ainda mais deitados, o coveiro que o diga...
:)
Beijo