27/08/2015

The girl next door # 3

Eu coloco, não, eu deposito, não, eu meto o carro num lugar de garagem, que foi o que a permilagem e o genitagem me distribuíram, cujo tamanho só não é igual a zero porque o meu carro cabe lá dentro dos contornos. Porém, porque de um lado tenho uma coluna e, do outro, fica o lugar de um vizinho que também deve ter uma permilagem assim do calibre da minha, mas tem um carrão mesmo à gajo, faço a manobra toda, pelos corredores claustrofóbicos e com mais curvas do que eu, de maneira a que o meu boi fique ali quieto, ao lado do gnu dele, mas que possamos, ele e eu, sair dos nossos bovídeos sem termos que fazer apneia, nem roçar os nossos corpos pelo animal do outro, limpando-lhes a pintura ou provocando-lhe algum risco com a braguilha das calças, nomeadamente se for ele no meu, que eu cá sou menos de braguilhas e, até ver, os vestidos não as usam. Assim, encosto o bicho o mais que posso à coluna, corro riscos de o riscar, e deixo-o ligeiramente chegado à frente, para que tenhamos mais abertura, um e outro — isto sou eu a falar de portas —, e também para que a porta da frente do meu não pique a pintura do dele, que aquilo parece mesmo um corno, tem ali um verticezinho que é um chifre da tourada à espanhola, todo em pontas, olé, mal me descuido e lá o vizinho tem uma cornada na pintura. Não se faz, e eu preocupo-me, capaz até de me tirar o sono, pois tudo mo tira, cambada de gatunos. Mas não posso fazer nada quanto à porta de trás e aos ímpetos da juventude dos meus passageiros. O boizão do vizinho tem vindo, ao longo dos tempos, a sofrer uma, duas, dez, talvez vinte marradas da porta de trás do meu garraio, o que, pese embora o ter tornado um charmoso modelo personalizado, há gostos para tudo, e o dono pode não gostar desses gostos. 
Por um lado, achei cavalheiresco que não me tenha deixado um recado explícito no para-brisas. Mas, por outro, quando vi os cartões com que ele forrou a lateral e a roda (wtf? Eu nunca lhe rocei a roda, olha a intimidade!), fiquei um tudo-nada apreensiva, a pensar se o cartão maior não conterá uma mensagem subliminar. 


Acham que é seguro ir lá escrever por baixo qual é o meu sonho?

12 comentários:

  1. Opa priceless.
    Mas olha q alguém devia espancar os tipos q desenham as garagens dos prédios, especialmente pelo espaço que deixam reservado p manobras.
    E nos Centros comerciais? Aquelas marcações ridículas! Devem achar q há um botão de eject p sairmos do carro (pelo tejadilho)

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    1. Aquilo deve ser tudo gente vesga e com réguas que só vão até aos 15 cm!
      Nos centros comerciais, ando quase sempre em contramão. Expliquem-me como é que é possível que o meu lugar esteja logo ali à mão de semear, e seja proibido entrar por ali! :D

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  2. Querias tu ter um lugar numa garagem comá minha, super espaçosa e sem necessidade dessas manobras :P

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    1. Na rua? :P
      Ou devo entender isso num sentido metafórico... ? Errr...
      :P

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    2. Nop, tenho mesmo uma garagem com 4 pisos de estacionamento super espaçosa, com praí uns 400 lugares :P

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    3. Cheira-me que tu és meu vizinho de bairro :P

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    4. Bairros vizinhos!

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    5. Olha agora...
      Porquê? :P

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