e tu, teimosa, até sais.
E entendes que deves deixar a tua pegada ecológica, e vais a pé.
É só até ao café, embora, nos dias que correm, ir ao café seja, no mínimo, a actividade lúdica mais perigosa que se pode praticar.
O café fica a escassos (adoro adjectivar com escassos quando vou falar de metros logo a seguir) cem metros de casa. E lá vais tu.
Logo que pisas a rua, apercebes-te de que a equação vestido não justo (ou seja, vestido injusto) mais meias altas mais vento tem, pelo menos, uma variável a mais. O vestido injusto faz a vontade ao vento, ou aos mirones involuntários - há uma cena, na Branca de Neve, assim, não há? Só olhos (assim era eu) -, criando-te uma situação profundamente injusta, só obedecendo ela a critérios mínimos de justiça aos olhos multiplicados que te acompanham pela rua.
Trauteias mentalmente uma coisa do final da tua infância, Lá no centro, larentro, da avenida, larida, o Pinóquio, laróquio, escorregou, larou, agarrou-se, larou-se, ao meu vestido, larido, nem uma prega, larega, me deixou, larou.
Vais nesta alegria esfusiante quando ainda és acometida por um ataque de tosse. Vês aproximar a vizinha do primeiro andar e, naqueles escassos - lá está - dez metros que te distam dela, ainda tens tempo para ter mais dois ataques de tosse - ou seja, se estiverdes atentos à matemática aqui implícita, um total de três acometimentos. E não é que, no momento em que se cruzam uma com a outra, ela te pergunta, não estupidamente, mas estupidificantemente: Está boa?
Vá que respondes - Bem, muito obrigada, no exacto segundo em que te assalta o quarto ataque.
Já no café, apontas para um bolo que te parece um babá.
E ninguém te avisou que, se já tens uma homérica e histriónica dificuldade em fixar nomes de pessoas, ainda que se chamem Maria ou José, na matéria dos nomes dos bolos chumbaste em grande estilo e foste proibida de tentar a segunda época, por indecente e má figura na primeira e segunda chamadas.
- Isto é um babá?
Calavas-te aqui. Esperavas que o empregado respondesse mais do que aquele tímido Não. Ele, a seguir, ia dizer-te a verdade - que aquilo ali era um bom bocado.
Mas tu não te cansas de fazer figuras. Além disso, Arroios também tinha uma maluquinha, e tu não moras em Arroios.
- Então é o quê, um bobó?
Vá, não perguntem por que é que soltei aquilo. Ainda me apetece vomitar, de cada vez que me lembro da cara do desgraçado. Nem quero saber onde é que ele vai passar esta noite. Eu não pago chiliques em hospitais.
Piora-me a situação o facto de ainda estar surda de um ouvido. Falo muito alto. Não é que eu dê por isso, mas as minhas companhias queixam-se.
Na verdade, gritei - UM BOBÓ.
Mas pronto. A história podia acabar aqui. The end, já chega.
Isso só é possível com uma pessoa, digamos, comum, que tem o azar de cometer uma gaffe. Já comigo, é sempre a descer.
Diz-me a minha companhia assim:
- Levo-te a casa, tenho aqui o carro - eu lembro que estava a escassos cem metros de casa.
- Ai, que bom, adoro andar de cu tremido!
Parece que ainda estou a ver o outro do bom bocado, cá fora, a fumar um apreensivíssimo cigarro, e a ver-me afastar em direcção à tremedura do cu. E quis eu, agarrando as pregas-laregas do meu vestido-larido, que a equação vestido injusto mais meias altas mais vento não me criasse ali mesmo uma situação historicamente injusta, porque, por Murphy, até as cuecas hoje eu tinha mostrado a um desconhecido que, ainda por cima, não me tinha oferecido flores.
(E não, hoje não eram amarelas)
Resumindo: (estão as pessoas mal intencionadas a pensar) "fazes tudo para chamar a atenção"! :P
ResponderEliminarE eu lá tenho gente mal intencionada a ler-me? :P
EliminarComo diria "o outro": "Nem mal, nem bem intencionada. Antes pelo contrário..."
Eliminar;)
Pois.
EliminarEu também faço piruetas, quando é preciso ;)
Mais uma prova dos perigos do café ;)
ResponderEliminarE não sei porquê mas a palavra bobó parece ter vida própria. Com a sobrinha e o típico livro de animais e respectivos sons, sobre a diferença entre ovelhas (mééé) e cabras (bééé) sai-me a pérola "há as que fazem mémé e as que fazem bobó". Dito de forma completamente inconsciente (pelo menos para mim, o Freud era capaz de ter outra opinião).
É pior do que ir para a guerra. A pessoa nunca sabe se volta viva ;)
EliminarA minha também foi inconsciente. Eu até acho que queria dizer "bebé", mas saiu-me com aquela vogal...
E repara: a tua já é grave, porque é dita a uma criança, que pode sair por aí a repetir. Mas a minha é dita a um adulto, à frente de mais uns quantos.
Devo ter um nico de Tourette.
Cara Linda,
ResponderEliminarA sua candura e o humor com que escreve são desarmantes.
Beijo,
Outro Ente.
Caro Outro Ente,
EliminarSou vítima de mim mesma, a minha escrita é uma triste catarse dos meus anacronismos.
Obrigada pela sua simpatia.
Beijo,
Linda Porca.
LP,
ResponderEliminarA verdadeira LP, já está definitivamente boa ! Perdão, curada !
O que posso dizer mais ?
Olha LP - és um GRANDE tratado !
E aposto - o empregado tímido era um grande totó ! Daí a tua confusão totó / bobó !
É a única explicação possível e que abona a teu favor.
Não fizeste nenhuma má figura ...mas que pagava para ter assistido...pagava !
Um tratado ! :) :) :)
Com quatro ataques de tosse em cinco metros? Não te esqueças que, feita a média, a vizinha percorreu metade, e eu a outra metade, dos dez que nos separavam.
EliminarE surda, que grito libidinices quando vou à bica?
Isto é estar boa?
Oh, céus, sou uma pobre vagabunda.
Olha... agora que falas nisso, não: o rapaz não é nada totó. Pelo menos, percebe de nomes de bolos. E, convenhamos: alguém sai imune a um porta-estandarte deste calibre?
Ainda bem que não conheço ninguém como eu.
Pois, quando uma pessoa quer fazer boa figura, só sai (perdoa o termo) - bosta!
ResponderEliminarEu não voltava a esse café... lol.
E de bolos idem, nomes de bolos de pastelaria não é comigo. Aponto sempre "quero este aqui" e o senhor lá responde o nome do dito... "sim, sim, esse mesmo" diz a desastrada... putz!!! :D
É isso. Lol, putz.
EliminarPara a próxima, assinas isso, tá-se?