Foi num tempo em que eu estava muito gorda e cheia de vida, mas ele não me viu crescer, nem talvez aquele volume todo lhe gritasse que a sua menina já era, afinal, uma mulher, a caminho de mais mulher ainda, a dar fruto e tudo. Eu depois não o vi envelhecer, porque ele me morreu uma semana depois, exactamente sete dias depois do chocolate que me deu. Que eu andava trágica, diz que é das hormonas, ou então sentia-o a ir-se embora e nem sabia explicar aquela dor que me roía todos os dias, no início daquele Verão. Mas também diz que é das hormonas, há astros que se alinham nessa fase da vida das mulheres, e a mim tudo me gritava que eu ia perdê-lo não tardava nada. Se calhar, por isso, é que me lavava em lágrimas por tudo e por nada, precisamente numa altura em que devia rir-me para a vida e rir-me da vida, vencida por mim, vencedora, eu. Caí-lhe nos braços naquela tarde, a chorar um drama meu totalmente corriqueiro, pois tinha sido maltratada numa loja, coisa que, caramba, é tão vulgar e normal, que chego hoje a pensar se não será condição de contratação para atendimento ao público. Ele confortou-me com aqueles olhos enormes e pretos que me tinha oferecido iguais uns anos antes, pediu-me que não chorasse e apelou para a vida que se espalmava entre os nossos corpos abraçados, afastou-se por um minuto e apareceu-me com um chocolate na mão para me consolar. Ensinou-me assim, naquela espécie de ritual de despedida, mais uma lição que eu retive por instinto e para sempre: que os pais não vêem os filhos crescer. Eu nunca cresci aos olhos dele, e, em contrapartida, como paga de amor, ele nunca envelheceu aos meus. Hoje olho para a minha mãe, tão velhinha, tão pequenina, tão magrinha, os cabelinhos todos branquinhos, assim mesmo, definida com todos os diminutivos possíveis, e duvido já ter percebido que ela envelheceu. Deve ser - só pode ser - por isso que lhe levo chocolates.
Não posso dar-te um chocolate, mando-te um beijinho.
ResponderEliminarSabe-me a chocolate, companheira.
Eliminarxi <3
Sou teu amigo, não te ofereço coisas que fazem mal :-)
ResponderEliminarE engordam :)
EliminarObrigada.
Maaaaaaaaaaauuuuuuuuuu...eu é que te 'tava a amolecer...e tu é que me fazes tremelicar a voz e marear osjólhinhos?!?!?...ai que porra...mau maria....
ResponderEliminarPega um beijo
E não foi vingança, juro!
EliminarPega outro.
Há quem tenha o que dizer; há quem o saiba dizer. Quando ambas as condições se conjugam, surgem textos assim, bons de ler. E de reler.
ResponderEliminarDiz o roto ao nu :)
EliminarIsso soube-me bem, vindo de quem vem.
Depois do que li, é impossível remeter alguma leveza neste retângulo.. Pois a mim, aquela pessoa que tão bem nos faz, também não me viu crescer, uma vez que saiu da minha vida enquanto eu era mesmo menina, muito menina, levado por uma corcunda velha, malfeitora e muito sádica, que ainda hoje continua a vir buscar velhos e novos, crianças!!! Todos lhe servem, naquela avidez de encher o seu universo de pessoas que tanta falta ficam a fazer a outras.
ResponderEliminarDeixo um grande abraço, bem sentido.
A mesma mo levou, sem aviso nenhum, num sopro de fósforo que me queimou os dias seguintes até ao último que viva e, embora apaziguada pelo tempo, deixou-me uma dor gigantesca e essa chama das saudades que, em dias como o de hoje, se reacende num incêndio inesperado, que me devora, e eu nem sequer sei de que lado vem, para, ao menos, tentar combatê-lo.
EliminarAbraço recebido e muito retribuído.
Que texto LP!! emocias com tantas verdades ..... os filhos nunca crescem aos olhos dos pais e os pais não envelhecem para os filhos ...só assim se explicam certas coisas...
ResponderEliminarE agora deste-me vontade de te dar um abracinho sentido . Aqui vai!
Nunca e nunca, mesmo.
EliminarEh, que bom. Obrigada, aqui recebi e toma também.
Depois da tempestade...
ResponderEliminar:) as minhas bonanças são de uma alegria contagiante...
EliminarMais um grande abraço daqui. Bem caloroso, como tenho a certeza que só os darás :)
ResponderEliminarSão desses, são :)
EliminarAssim para ti também, Pandy.