02/08/2014

As saudades que eu já tenho da minha alegre casinha, tão modesta quanto eu

O grande truque para se acabarem umas férias sem pena do fim, é arranjar uma casa com condições para que nos fartemos dela em três tempos. Em três dias.

Vizinhos com cães (quatro) portadores de coleiras anti-latido, que ganem desalmadamente, nomeadamente quando avistam minha doce gatita. Ela devora relva do mini-jardim, fingindo-se indiferente ao sofrimento deles, mas desafiando-os daquela forma lânguida de que só os gatos são capazes. Os cães fazem tanto cocó que há dias, assim de mais humidade, que nem se pode sentar a ler um interessante livro na zona ajardinada: o smell e o mosquedo rapidamente nos expulsam. 

Dono da casa histérico com a casa. Os sofás horríveis, de uma pelezinha verde, são para manter intactos. A gata não concorda. Descobri uns cortinados foleiros numa arrecadação, que têm servido de mantas para os sofás. Pelo menos, a gata não os esgatanha. Cortei-lhe as unhas no primeiro dia, mas isso só lhes mudou a configuração das pontas - de anzol para agulha sem ponta.

As camas são todas desconfortáveis. Nunca vi uma casa com tantas camas e todas tão desconfortáveis. Esta foi a nona noite e foi a primeira em que consegui dormir sete horas. 

Não há roupeiros, parece que vim passar férias a um motel de quecanso. A mala continua feita, menos um trabalho para o dia do regresso. 

A piscina é partilhada com mais sete casas, e quase permanentemente ocupada pelos emigras que me calharam de um dos lados, que ora falam português, ou lá o que é aquilo, ora falam uma língua que soa vagamente a francês. Como detesto piscinas, cedo-lha de bom grado mentalmente, oferecendo o sacrifício pela minha saúde e dos meus, como se me custasse muito. Nem quero imaginar a concentração de amoníaco urinário per litro cúbico daquilo. E, em não sendo meu, mete-me nojinho.

E depois, parece que nunca ninguém habitou a casa. Não falta só a máquina de lavar louça. Faltam comodidades que, para uma esquisita como eu, são fundamentais: panos de cozinha; aventais; pegas; mais louça (não suporto ter os pratos e os talheres contados); um alguidar. Tenho que passar a incluir na mala algumas destas coisas. Já trago sempre molas da roupa, que, sabe-se lá porquê, as casas de férias não têm. Agora as pegas, é novidade absoluta. E, quanto ao avental, isto obedece à velha máxima: podes tirar a gaja do avental, mas nunca tirarás o avental à gaja. Confuso? Eu também acho. Não há meio de me sair o Euromilhões. Mas estou quase a voltar para casa.

6 comentários:

  1. A malta já te sente a falta... Anda daí!

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  2. :) ai que simpatia...
    Já voltei. Entre o desfazer das malas, lavar a roupa, um trabalho para os próximos quinze dias e o telefonema do dono da casa a reclamar que a gata lhe trilhou a porrinha das cadeiras, isto tem sido um dia animadíssimo!

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    1. Então eu aturo esses personagens todos e ainda te ponho a roupa a estender. Mas tu vens práqui trabalhar por mim. Bale?

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    2. Bale, e trocamos de trabalho. Fazes o meu e eu faço o teu.
      (Sem estender a roupa, não te passa pela cabeça as quantidades, e atenção que fiz uma máquina praticamente todos os dias enquanto estive fora!)

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    3. Podes vir andando então que eu ainda cá tou...

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    4. Eu também estou a trabalhar, daí responder tão rapidamente...

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