Cais da idade, cais das hormonas, cais da canícula, cais carapuça, mas é o genital.
Foram dois estímulos nervosos, foram dois incentivos, foram duas vezes.
Dá uma pelo corno direito e uma pelo corno esquerdo. Tenho a cabeça equilibrada, obrigada.
E ambas no ginásio, o que me leva a crer que, neste momento, nem que abram a porta de par em par, eu consigo por lá entrar, de tão repassados que estão os meus cornos. Muuuu.
A primeira, já relatei aqui e ó, foi bonito, o vosso silêncio. Quando fala uma mãe estuporada, desembestada, de marmita perfurada, cala-se tudo, nem sempre para ouvir, a maior parte das vezes para não apanhar também, por tabela, que é como quem diz, a cinco tostões o berro. Mas tive razão, pois tive. Olha agora, meterem aquela preciosa cabecinha, que fui eu que fiz, à torreira do sol, a desidratar a jacto? E as meninges da menina? Inconscientes do genital.
A segunda, foi logo a seguir: ontem.
Saio do meu duche, a escorrer água, que é com o que me lavo, no sentido descendente vertical, dirijo-me ao balneário e, logo aí, sofri um choque psicológico, que só não foi eléctrico porque devo ter um anjo da guarda daqueles todos musculadões e de costas largonas e asonas hiper-mega-xxl, e que me adora: andava a funcionária das limpezas a aspirar. Ora, como se sabe, água e energia eléctrica são muito amiguinhas, mas para nos electrocutar, que é um raio e um corisco de uma porra. Mas vá que, airosamente, contornei o cabo — que atravessava o balneário todo — e me dirigi para o meu cacifo. Mas aquele meu anjo é um brincalhão do genital que dizem que eles não têm, e pôs-me a figura a aspirar aonde? Hah, adivinharam: em cima do meu cacifo. A atravessar o cabo grosso do aspirador, a devassa, na porta dele. Desviou-o a contragosto, pois devia estar a saber-lhe bem aquela posição, eu abri o cacifo e ela desligou o aspirador — porque nem havia ali uma área de perto de cem metros quadrados para aspirar, tinham mesmo que ser aqueles cinquenta centímetros — e cruzou os braços.
Parece que aquilo me caiu mal.
Ainda assim, porque ando em processo de mutação para ameba proteus ou para santa, sorri-lhe.
E disse assim:
- Não espere para continuar, que eu vou-me vestir e isto demora.
Demora mas é uma merda, mas eu cá tinha os meus motivos, que iam crescendo em tamanho e forma, à medida que ela não descruzava os braços. É besuntar-me de creminho da raiz do cabelo às pontinhas dos pés, duas peças de roupa interior, um vestido e uma sandalete e ó ai ó linda. Mas ela queria festa rija, e ah!, a vaca era eu. Lá está a tal coisa dos cornos.
Mas vá que ainda lhe quis dar uma oportunidade. Amorosa, eu. Devia ter levado um par de chapadas para acordar, logo assim que ela cruzou os braços, em vez de lhe dar uma oportunidade de redenção.
- Deixe-me tirar as minhas coisas do cacifo, que eu visto-me ali. Já percebi que não pode interromper o seu trabalho.
E a pessoa nada. Nem obrigada nem és tão boa.
Foi o que a lixou e me fez a mim passar da caganita.
Não lhe disse nada, porque este país funciona enviezado no confronto social, e depois acusavam-me de classista, elitista, racista e de todos os istas pejorativos de que se lembrassem.
Toda compostinha, tic-tic-tic, direitinha ao balcão,
- Vá lá ver o que se passa no balneário feminino. É meio-dia, isto fecha às duas e estão a fazer limpeza agora, donde, até às duas, alguém está a presumir que o chão não vai voltar a encher-se de pêlos, cabelos, unhas e sei lá que mais ADNs. Andam lá com um aspirador, numa zona onde passam pessoas acabadas de tomar banho. Fora a falta de educação de uma das pessoas que lá está, que, simplesmente, entendeu que tinha que aspirar o meu cacifo e, depois de eu me ter oferecido para lho disponibilizar, nem sequer me agradeceu. E, quer dizer, eu admito tudo, até lhe facilitei a vida, embora não concorde que se limpe com o balneário cheio de gente, mas não me agradecerem uma delicadeza, transtorna-me aquele nervo que só me dói nestas alturas.
Uma beleza. Tudo a marchar à minha frente.
Eu devia era ter ido para general, ou assim.
Pronto, pronto, já passou. Eu não tenho a PDM, não.
Só que, sabendo, como sei, que não posso mudar o mundo, ao menos se conseguir mudar o meu mundo, já fico mais calminha. Good girl.